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– Você está tornando isso muito difícil para mim. Muito mais do que já era. Por quê? Por
que você fez de mim o que eu sou, se então tenta enfraquecer a minha determinação...? – A
minha pergunta se esvaneceu, formulada apenas pela metade.
– Eu acho que... deixe para lá. Talvez seja uma espécie de ciúmes meus, garoto. Fico
pensando, imagino, nas razões que levam Sagaz a usar você e não a mim. Talvez eu esteja com
medo de ter deixado de ser útil a ele. Talvez, agora que te conheço, deseje nunca ter
começado a fazer de você aquilo...
E agora era a vez de Breu perder a fala, os pensamentos indo para onde as palavras não
podiam segui-los.
Ficamos sentados, meditando sobre a minha missão. Aquilo não era servir à justiça do rei.
Não era uma sentença de morte por um crime. Era simplesmente a eliminação de um homem
que constituía um obstáculo para o poder maior. Fiquei sentado, quieto, até começar a
perguntar a mim mesmo se eu faria aquilo. Então levantei os olhos e vi uma faca de prata, para
cortar fruta, enterrada profundamente na prateleira em cima da lareira de Breu e pensei que
sabia a resposta.
– Veracidade fez uma reclamação, em seu nome – disse Breu subitamente.
– Reclamação? – perguntei numa voz debilitada.
– A Sagaz. Primeiro, que Galeno tinha te maltratado e ludibriado. Apresentou essa
reclamação formalmente, dizendo que Galeno tinha privado o reino do seu Talento, num
momento em que teria sido muito útil. Sugeriu a Sagaz, informalmente, que acertasse as contas
com Galeno, antes que você se vingasse com suas próprias mãos.
Olhando para o rosto de Breu, pude ver que todo conteúdo da minha discussão com
Veracidade tinha sido revelado a ele. Não tinha certeza de como me sentia a respeito disso.
– Não faria isso, vingar-me de Galeno com minhas próprias mãos. Não depois de
Veracidade me pedir que não fizesse isso.
Breu me deu um olhar de aprovação tranquila.
– Eu disse isso para Sagaz. Mas ele me disse para te informar que ele dará um jeito nisso.
Dessa vez o rei fará a sua própria justiça. Aguarde e ficará satisfeito.
– O que ele vai fazer?
– Isso eu não sei. Não acho que o próprio Sagaz já saiba. O homem tem de ser repreendido.
Mas temos de considerar que, se queremos treinar outros círculos, Galeno não deve se sentir
muito maltratado – Breu pigarreou e disse mais tranquilamente: – Veracidade fez também
outra reclamação ao rei. Acusou-nos, a Sagaz e a mim, sem rodeios, de sermos capazes de te
sacrificar para o bem do reino.
Isso, eu soube de repente, havia sido a razão por que Breu tinha me chamado naquela noite.
Fiquei calado.
Breu falou mais lentamente:
– Sagaz declarou não ter sequer considerado a possibilidade. Da minha parte, não tinha
ideia de que uma coisa dessas fosse possível – suspirou outra vez, como se dizer essas
palavras fosse um custo para ele. – Sagaz é um rei, garoto. A sua preocupação deve ser
sempre, em primeiro lugar, o reino.
O silêncio se instalou entre nós.
– Você está me dizendo que ele me sacrificaria. Sem nenhuma piedade.
Ele não tirou os olhos da lareira.