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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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dos grupos enviados para Jhaampe, para cavalgar com eles até Vara, onde tinha familiares que

desejava visitar. Quando regressasse, eu estaria a caminho de Jhaampe, de modo que Galeno

continuaria fora do meu alcance.

Mais uma vez, tinha tempo de sobra. Ainda tratava de Leon, mas isso não ocupava mais do

que uma hora ou duas por dia. Não tinha sido capaz de descobrir mais nada sobre o ataque a

Bronco, nem Bronco mostrou nenhum sinal de amenizar o meu ostracismo. Tinha feito uma

excursão à Cidade de Torre do Cervo, mas, quando passei por acaso em frente à casa de

velas, estava fechada e silenciosa. As minhas perguntas na loja ao lado me trouxeram a

informação de que a casa de velas estava fechada havia dez dias ou mais e que, a não ser que

eu desejasse alguns arreios de couro, podia ir a outro lugar e deixar de importuná-lo. Pensei

no jovem que tinha visto com Moli da última vez e desejei amargamente que nada de bom

viesse dessa relação.

Por nenhuma outra razão que não fosse estar sozinho, decidi procurar o Bobo. Nunca tinha

tentado ir ao encontro dele antes. Ele mostrou ser mais esquivo do que eu alguma vez tinha

imaginado.

Depois de algumas horas vagando ao acaso pela torre, esperando encontrá-lo, enchi-me de

coragem e fui aos seus aposentos. Havia anos que eu sabia onde eram, mas nunca tinha ido lá

antes, e não apenas porque era numa parte da torre que ficava fora do caminho. O Bobo não

dava abertura a nenhum tipo de intimidade, com exceção da que ele próprio decidia oferecer,

e apenas quando ele próprio decidia fazer isso. Os seus aposentos eram no topo da torre.

Penacarriço havia me dito que muito tempo atrás aquele quarto tinha sido uma sala de mapas

que oferecia uma visão irrestrita sobre as terras nos arredores de Torre do Cervo. Mas

acréscimos posteriores a Torre do Cervo tinham bloqueado a vista, e torres mais altas o

haviam substituído. Sua utilidade ficou para trás, seja lá para o que quer que fosse, exceto

para servir como aposentos de um bobo.

Fui lá para cima, naquele dia em que a época das colheitas já tinha começado. Era um dia já

quente e pegajoso. A torre estava fechada, com exceção das seteiras que faziam pouco mais do

que iluminar as partículas de poeira que os meus pés faziam dançar no ar parado. Em

princípio, a escuridão da torre tinha parecido mais fresca do que o dia abafado lá fora, mas, à

medida que eu subia, parecia tornar-se mais quente e mais apertada, de forma que, no

momento em que alcancei o último andar, sentia-me como se não tivesse ar suficiente para

respirar. Ergui um punho cansado e bati à porta pesada.

– Sou eu, Fitz! – gritei, mas o ar parado e quente abafou a minha voz como um cobertor

molhado apaga uma chama.

Devo usar isso como desculpa? Devo dizer que pensei que talvez ele não pudesse me ouvir

e que, portanto, entrei para ver se ele estava lá? Ou devo dizer que me sentia tão quente e com

sede que entrei para ver se os aposentos dele ofereciam um resquício que fosse de ar ou água?

O porquê não interessa, imagino. Segurei a tranca, levantei-a e entrei.

– Bobo? – chamei, mas podia sentir que ele não estava lá.

Não da forma como normalmente sentia a presença ou ausência de gente, mas pela quietude

que me recebeu. E, contudo, pus um pé dentro do quarto, e foi uma alma nua que se revelou

diante dos meus olhos abertos de espanto.

Havia ali uma profusão de luz, flores e cores. Havia um tear num canto e cestos cheios de

fios finos, em cores muito vivas. A colcha tecida sobre a cama e os adornos nas janelas

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