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suficiente para continuarem a fazer comércio, e de camponeses sem medo de alimentar os
rebanhos nas colinas e montes da costa. E tudo isso nos traz de volta à necessidade de você
reivindicar uma esposa.
Veracidade, tão animado enquanto falava de navios de guerra, recostou-se na cadeira.
Pareceu ficar abatido, como se alguma peça da sua estrutura interna tivesse fraturado. Quase
esperei vê-lo entrar em colapso.
– Como quiser, meu rei – disse, mas ia abanando a cabeça enquanto falava, negando a
afirmação das próprias palavras. – Farei aquilo que você considera sábio. É esse o dever de
um príncipe ao rei e ao reino. Mas, enquanto homem, Pai, é uma coisa vazia e amarga,
desposar uma mulher escolhida pelo meu irmão mais novo. Aposto que, depois de ter visto
Majestoso primeiro, quando ela se colocar ao meu lado não me verá como um grande prêmio.
Veracidade baixou a cabeça e olhou para as mãos, para as cicatrizes de batalha e trabalho
que agora se mostravam claramente na sua palidez. Ouvi o nome que tinha nas suas palavras,
ao dizer numa voz suave:
– Fui sempre o seu segundo filho. Atrás de Cavalaria, com a sua beleza, força e sabedoria.
E agora atrás de Majestoso, com a sua esperteza, charme e graça. Sei que pensa que ele seria
um melhor rei para te suceder do que eu. Nem sempre discordo de você. Nasci em segundo, e
educado para ser segundo. Sempre acreditei que o meu lugar seria atrás do trono, e não
sentado nele. Enquanto pensei que Cavalaria iria te suceder, não me importei com isso. Ele me
dava muito valor, o meu irmão. A confiança dele em mim era uma honra; incluía-me em tudo o
que realizava. Ser a mão direita de um rei desses seria melhor do que ser rei de uma terra
menor. Acreditei nele tanto quanto ele acreditou em mim. Mas agora ele se foi. E não te direi
nada de surpreendente ao revelar que não existe essa ligação entre mim e Majestoso. Talvez
seja por termos tantos anos de diferença; talvez Cavalaria e eu fôssemos tão próximos que não
deixamos espaço para um terceiro. Mas não penso que tenha procurado por uma mulher que
possa me amar. Ou uma que...
– Ele escolheu uma rainha para você! – interrompeu severamente Sagaz.
Eu sabia que não era a primeira vez que isso era discutido e senti que Sagaz estava
principalmente irritado pelo fato de eu presenciar a conversa.
– Majestoso escolheu uma mulher, não para você, ou para ele, ou qualquer absurdo desse
tipo. Escolheu uma mulher para ser rainha deste país, destes Seis Ducados. Uma mulher que
possa nos trazer a fortuna, os homens e os acordos comerciais de que precisamos neste
momento, se desejamos sobreviver aos Navios Vermelhos. Mãos suaves e um perfume doce
não constroem os seus navios de guerra, Veracidade. Tem de deixar de lado esses ciúmes do
seu irmão; você não poderá se defender dos golpes do inimigo se não tem confiança naqueles
que estão atrás de você.
– Exatamente – disse Veracidade com tranquilidade. Empurrou a cadeira para trás.
– Aonde vai? – perguntou Sagaz irritado.
– Cuidar das minhas obrigações – disse Veracidade. – Aonde mais posso ir?
Por um momento, até Sagaz pareceu ser pego de surpresa.
– Mas você não comeu quase nada... – começou a gaguejar.
– O Talento mata todos os outros apetites. Você sabe disso.
– Sim – Sagaz fez uma pausa. – E sei também, como você sabe, que quando isso acontece,
um homem está à beira do abismo. O apetite pelo Talento devora um homem, não o alimenta.