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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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suficiente para continuarem a fazer comércio, e de camponeses sem medo de alimentar os

rebanhos nas colinas e montes da costa. E tudo isso nos traz de volta à necessidade de você

reivindicar uma esposa.

Veracidade, tão animado enquanto falava de navios de guerra, recostou-se na cadeira.

Pareceu ficar abatido, como se alguma peça da sua estrutura interna tivesse fraturado. Quase

esperei vê-lo entrar em colapso.

– Como quiser, meu rei – disse, mas ia abanando a cabeça enquanto falava, negando a

afirmação das próprias palavras. – Farei aquilo que você considera sábio. É esse o dever de

um príncipe ao rei e ao reino. Mas, enquanto homem, Pai, é uma coisa vazia e amarga,

desposar uma mulher escolhida pelo meu irmão mais novo. Aposto que, depois de ter visto

Majestoso primeiro, quando ela se colocar ao meu lado não me verá como um grande prêmio.

Veracidade baixou a cabeça e olhou para as mãos, para as cicatrizes de batalha e trabalho

que agora se mostravam claramente na sua palidez. Ouvi o nome que tinha nas suas palavras,

ao dizer numa voz suave:

– Fui sempre o seu segundo filho. Atrás de Cavalaria, com a sua beleza, força e sabedoria.

E agora atrás de Majestoso, com a sua esperteza, charme e graça. Sei que pensa que ele seria

um melhor rei para te suceder do que eu. Nem sempre discordo de você. Nasci em segundo, e

educado para ser segundo. Sempre acreditei que o meu lugar seria atrás do trono, e não

sentado nele. Enquanto pensei que Cavalaria iria te suceder, não me importei com isso. Ele me

dava muito valor, o meu irmão. A confiança dele em mim era uma honra; incluía-me em tudo o

que realizava. Ser a mão direita de um rei desses seria melhor do que ser rei de uma terra

menor. Acreditei nele tanto quanto ele acreditou em mim. Mas agora ele se foi. E não te direi

nada de surpreendente ao revelar que não existe essa ligação entre mim e Majestoso. Talvez

seja por termos tantos anos de diferença; talvez Cavalaria e eu fôssemos tão próximos que não

deixamos espaço para um terceiro. Mas não penso que tenha procurado por uma mulher que

possa me amar. Ou uma que...

– Ele escolheu uma rainha para você! – interrompeu severamente Sagaz.

Eu sabia que não era a primeira vez que isso era discutido e senti que Sagaz estava

principalmente irritado pelo fato de eu presenciar a conversa.

– Majestoso escolheu uma mulher, não para você, ou para ele, ou qualquer absurdo desse

tipo. Escolheu uma mulher para ser rainha deste país, destes Seis Ducados. Uma mulher que

possa nos trazer a fortuna, os homens e os acordos comerciais de que precisamos neste

momento, se desejamos sobreviver aos Navios Vermelhos. Mãos suaves e um perfume doce

não constroem os seus navios de guerra, Veracidade. Tem de deixar de lado esses ciúmes do

seu irmão; você não poderá se defender dos golpes do inimigo se não tem confiança naqueles

que estão atrás de você.

– Exatamente – disse Veracidade com tranquilidade. Empurrou a cadeira para trás.

– Aonde vai? – perguntou Sagaz irritado.

– Cuidar das minhas obrigações – disse Veracidade. – Aonde mais posso ir?

Por um momento, até Sagaz pareceu ser pego de surpresa.

– Mas você não comeu quase nada... – começou a gaguejar.

– O Talento mata todos os outros apetites. Você sabe disso.

– Sim – Sagaz fez uma pausa. – E sei também, como você sabe, que quando isso acontece,

um homem está à beira do abismo. O apetite pelo Talento devora um homem, não o alimenta.

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