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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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sedentária pode ser ameaçada com coisas que não afetariam nômades e corsários. Podemos

ser destruídos dessas mesmas maneiras. Quando as pessoas sedentárias querem segurança,

procuram continuidade.

Ao ouvir isso, levantei os olhos bruscamente. Essas palavras eram de Breu, apostava o meu

sangue. Isso queria dizer que esse casamento era algo que Breu tinha ajudado a arquitetar? O

meu interesse despertou e eu comecei a pensar outra vez por que teria sido requisitado para

este café da manhã.

– É uma questão de tranquilizar o povo, Veracidade. Você não tem nem o charme de

Majestoso, nem o porte que fazia Cavalaria convencer quem quer que fosse de que podia

resolver qualquer problema. Não digo isso para te menosprezar: você tem tanta aptidão para o

Talento como eu nunca vi na sua linhagem e, em muitas eras, a sua proficiência em táticas

militares teria sido mais importante do que a diplomacia de Cavalaria.

Aquilo soava a discurso preparado. Observei Sagaz fazer uma pausa. Pôs queijo e compota

num pedaço de pão e o mordeu pensativo. Veracidade continuou sentado e silencioso,

observando o pai. Ele me pareceu, ao mesmo tempo, atento e confuso. Como um homem

tentando desesperadamente se manter acordado e em alerta, quando tudo em que consegue

pensar é encostar a cabeça e fechar os olhos. As minhas breves experiências com o Talento, a

concentração dividida que é necessária para resistir às suas seduções e, ao mesmo tempo, ter

que submetê-lo à nossa vontade, faziam-me ficar assustado com a habilidade de Veracidade

em utilizá-lo constantemente todos os dias.

Sagaz olhou de relance, de Veracidade para mim e outra vez para a cara do filho.

– Pondo as coisas em termos simples, você precisa se casar. Além disso, precisa gerar um

filho. Daria alento ao povo. Diriam: “Bem, as coisas não podem ser assim tão ruins, se o

nosso príncipe não tem medo de se casar e ter um filho. Com certeza ele não faria isso se o

reino estivesse à beira de um colapso”.

– Mas você e eu sabemos mais do que isso, não é, Pai? – havia um tom envelhecido na voz

de Veracidade, e uma amargura que eu nunca tinha ouvido antes.

– Veracidade... – começou Sagaz, mas o filho o interrompeu.

– Meu rei – disse formalmente. – Você e eu sabemos que estamos à beira do desastre. E

agora, neste momento, não podemos relaxar a vigilância. Não tenho tempo para cortejar e

galantear, e ainda menos para as sutis negociações que a obtenção de uma noiva real

comportam. Enquanto o tempo for bom, os Navios Vermelhos atacarão. E quando o tempo se

tornar ruim, e as tempestades empurrarem os navios deles de volta aos próprios portos,

teremos de concentrar os nossos pensamentos e energias na tarefa de fortificar as linhas

costeiras e treinar tripulações para equipar navios de guerra. E é isso que quero discutir com

você. Deixe-nos construir a nossa própria frota, e não ricos navios mercantes para andarem

por aí tentando os salteadores, mas ágeis navios de guerra, como os que tivemos há tempos e

que os nossos construtores navais mais antigos ainda sabem construir. Levemos esta batalha

aos Ilhéus – sim, mesmo no meio das tempestades de inverno. Costumávamos ter esses

navegadores e guerreiros entre nós. Se começarmos a construir e a treiná-los agora, na

próxima primavera poderemos pelo menos mantê-los longe da costa, e possivelmente no

próximo inverno poderemos...

– Será necessário dinheiro. E dinheiro não flui depressa das mãos de homens aterrorizados.

Para angariar os fundos de que necessitamos é preciso termos os mercadores confiantes o

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