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sedentária pode ser ameaçada com coisas que não afetariam nômades e corsários. Podemos
ser destruídos dessas mesmas maneiras. Quando as pessoas sedentárias querem segurança,
procuram continuidade.
Ao ouvir isso, levantei os olhos bruscamente. Essas palavras eram de Breu, apostava o meu
sangue. Isso queria dizer que esse casamento era algo que Breu tinha ajudado a arquitetar? O
meu interesse despertou e eu comecei a pensar outra vez por que teria sido requisitado para
este café da manhã.
– É uma questão de tranquilizar o povo, Veracidade. Você não tem nem o charme de
Majestoso, nem o porte que fazia Cavalaria convencer quem quer que fosse de que podia
resolver qualquer problema. Não digo isso para te menosprezar: você tem tanta aptidão para o
Talento como eu nunca vi na sua linhagem e, em muitas eras, a sua proficiência em táticas
militares teria sido mais importante do que a diplomacia de Cavalaria.
Aquilo soava a discurso preparado. Observei Sagaz fazer uma pausa. Pôs queijo e compota
num pedaço de pão e o mordeu pensativo. Veracidade continuou sentado e silencioso,
observando o pai. Ele me pareceu, ao mesmo tempo, atento e confuso. Como um homem
tentando desesperadamente se manter acordado e em alerta, quando tudo em que consegue
pensar é encostar a cabeça e fechar os olhos. As minhas breves experiências com o Talento, a
concentração dividida que é necessária para resistir às suas seduções e, ao mesmo tempo, ter
que submetê-lo à nossa vontade, faziam-me ficar assustado com a habilidade de Veracidade
em utilizá-lo constantemente todos os dias.
Sagaz olhou de relance, de Veracidade para mim e outra vez para a cara do filho.
– Pondo as coisas em termos simples, você precisa se casar. Além disso, precisa gerar um
filho. Daria alento ao povo. Diriam: “Bem, as coisas não podem ser assim tão ruins, se o
nosso príncipe não tem medo de se casar e ter um filho. Com certeza ele não faria isso se o
reino estivesse à beira de um colapso”.
– Mas você e eu sabemos mais do que isso, não é, Pai? – havia um tom envelhecido na voz
de Veracidade, e uma amargura que eu nunca tinha ouvido antes.
– Veracidade... – começou Sagaz, mas o filho o interrompeu.
– Meu rei – disse formalmente. – Você e eu sabemos que estamos à beira do desastre. E
agora, neste momento, não podemos relaxar a vigilância. Não tenho tempo para cortejar e
galantear, e ainda menos para as sutis negociações que a obtenção de uma noiva real
comportam. Enquanto o tempo for bom, os Navios Vermelhos atacarão. E quando o tempo se
tornar ruim, e as tempestades empurrarem os navios deles de volta aos próprios portos,
teremos de concentrar os nossos pensamentos e energias na tarefa de fortificar as linhas
costeiras e treinar tripulações para equipar navios de guerra. E é isso que quero discutir com
você. Deixe-nos construir a nossa própria frota, e não ricos navios mercantes para andarem
por aí tentando os salteadores, mas ágeis navios de guerra, como os que tivemos há tempos e
que os nossos construtores navais mais antigos ainda sabem construir. Levemos esta batalha
aos Ilhéus – sim, mesmo no meio das tempestades de inverno. Costumávamos ter esses
navegadores e guerreiros entre nós. Se começarmos a construir e a treiná-los agora, na
próxima primavera poderemos pelo menos mantê-los longe da costa, e possivelmente no
próximo inverno poderemos...
– Será necessário dinheiro. E dinheiro não flui depressa das mãos de homens aterrorizados.
Para angariar os fundos de que necessitamos é preciso termos os mercadores confiantes o