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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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estou disposto a discutir o assunto. Agora coma.

Baixei a cabeça, sentindo-me péssimo, mas comi, e o casco-de-elfo no chá me revitalizou

mais depressa do que tinha esperado. Passado pouco tempo, já podia me levantar. Empilhei os

pratos na bandeja e levei-os até a porta. Senti-me derrotado. Levantei a tranca.

– FitzCavalaria Visionário.

Fiquei imóvel, paralisado pelas palavras. Virei-me lentamente.

– É o seu nome, garoto. Eu mesmo o escrevi, no registro militar, no dia em que você foi

trazido até mim. Outra coisa que pensei que você sabia. Pare de pensar em você mesmo como

o bastardo, FitzCavalaria Visionário. E fale com Sagaz hoje mesmo.

– Adeus – disse tranquilamente, mas ele já estava outra vez com o olhar fixo na janela.

E assim nos encontrou o pleno verão. Breu com as suas tábuas, Veracidade à janela,

Majestoso cortejando uma princesa para o irmão, e eu, matando silenciosamente para o rei. Os

Ducados do Interior e os Ducados Costeiros sentaram-se às mesas do conselho, soltando

silvos e cuspindo uns nos outros como gatos lutando por peixe. E, presidindo a tudo isso,

estava Sagaz, mantendo cada pedaço da teia tão firme quanto uma aranha teria feito, e atento

ao mínimo puxar de um fio. Os Navios Vermelhos nos atacaram, como peixes-rato numa isca

de carne, arrancando pedaços do nosso povo e Forjando-os. E os Forjados tornaram-se um

tormento para as nossas terras, mendigos, predadores ou fardos para as suas famílias. O povo

tinha medo de pescar, fazer comércio ou cultivar as planícies da boca do rio à beira-mar. E,

contudo, os impostos precisavam ser aumentados, para alimentar os soldados e as sentinelas

que pareciam incapazes de defender a terra, apesar dos seus números crescentes. Sagaz tinha

me libertado a contragosto de servir Veracidade. Ele não me chamou durante mais de um mês

até que uma manhã fui abruptamente requisitado para um café da manhã.

– É um mau momento para casar – objetou Veracidade. – Eu não tenho tempo para isso.

Vamos deixar assim por um ano. Tenho certeza que será o suficiente para você.

Olhei o homem lívido e macilento que partilhava a mesa de café da manhã do rei e pensava

se esse era o homem forte e caloroso da minha infância. Tinha piorado tanto em apenas um

mês! Brincou com um pedaço de pão e o colocou de volta à mesa. O frescor tinha

desaparecido das suas bochechas e olhos, o cabelo estava opaco, a musculatura flácida. O

branco dos olhos tinha se tornado amarelado. Bronco o teria sacrificado, se fosse um cão.

Embora ninguém tivesse me perguntado nada, eu disse:

– Cacei com Leon há dois dias. Ele pegou um coelho.

Veracidade virou-se para mim, um fantasma do velho sorriso brincando no seu rosto.

– Você levou o meu cão de caçar lobos para pegar coelhos?

– Ele se divertiu. Mas está com saudades suas. Trouxe-me o coelho, e eu o elogiei, mas ele

não parecia satisfeito.

Não podia dizer para ele como o cão de caça tinha me olhado e dito, não é para você, tanto

com os olhos como com a atitude.

Veracidade levantou o copo. Sua mão tremeu muito rapidamente.

– Fico contente que saia com você, garoto. É melhor que...

– O casamento – interrompeu Sagaz – irá trazer alento ao povo. Estou ficando velho,

Veracidade, e os tempos são difíceis. O povo não vê fim para os problemas, e eu não ouso

prometer a eles soluções que não temos. Os Ilhéus têm razão, Veracidade. Nós não somos os

guerreiros que há tempos se estabeleceram aqui. Nós nos tornamos gente sedentária, e gente

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