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e o cobertor que eu tinha trazido antes tinha sido estendido em cima de mim. Veracidade
estava em pé, debruçando-se na janela. Tremia com o esforço, e o Talento que estava
manipulando era como um forte bater de ondas que eu quase podia sentir.
– Contra os rochedos – disse, com profunda satisfação, e virou as costas à janela. Sorriu
para mim, um sorriso velho e feroz, que se apagou lentamente enquanto me olhava.
– Como um cordeiro para a matança – disse pesaroso. – Devia ter percebido que você não
tinha ideia do que estava dizendo.
– O que aconteceu comigo? – consegui perguntar.
Meus dentes batiam uns contra os outros, e o meu corpo tremia todo como se estivesse
resfriado. Senti que os meus ossos iam chacoalhar até saírem das juntas.
– Você me ofereceu a sua força. E eu a peguei – serviu uma xícara de chá e ajoelhou-se
para levá-la à minha boca. – Beba devagar. Eu estava com pressa. Não te disse antes que
Cavalaria era como um touro usando o Talento? O que eu devo dizer sobre mim mesmo,
então?
Tinha a sua velha sinceridade e boa natureza de volta. Esse era um Veracidade que eu não
via há meses. Consegui tomar um gole de chá e senti o sabor picante do casco-de-elfo na boca
e na garganta. Os tremores diminuíram. Veracidade tomou um gole casual da caneca.
– Antigamente – ele disse – um rei drenava poder do seu círculo. Meia dúzia de homens ou
mais, todos sintonizados uns com os outros, capazes de juntar as suas forças e oferecê-las
quando necessário. Era esse o verdadeiro propósito. Disponibilizar força ao rei, ou ao seu
homem-chave. Não creio que Galeno compreenda isso. O seu círculo é uma coisa imaginada
por ele. São como cavalos, touros e burros, todos colocados juntos. Nada como um
verdadeiro círculo. Falta a eles a união da mente.
– Você drenou a minha força?
– Sim. Acredite em mim, garoto, não teria feito isso, mas tive uma necessidade súbita e
pensei que você sabia o que tinha me oferecido. Você até se referiu a si mesmo como um
homem do rei, o velho termo. E visto sermos tão próximos de sangue, sabia que podia utilizar
a sua força – ele descansou a caneca na bandeja com um baque. O seu descontentamento
tornava a sua voz mais profunda. – Sagaz. Ele faz as coisas acontecerem, rodas girarem,
pêndulos balançarem. Não foi por acidente que você foi escolhido para me trazer as refeições,
garoto. Ele estava te colocando à minha disposição.
Deu uma volta rápida pelo quarto e então parou, ao meu lado:
– Não acontecerá outra vez.
– Não foi assim tão ruim – eu disse, numa voz debilitada.
– Não? Então por que é que você não tenta ficar em pé? Ou até mesmo se sentar? Você é
apenas um garoto, sozinho, e não um círculo. Se eu não tivesse percebido a sua ignorância e
me retirado, poderia ter te matado. O seu coração e respiração teriam simplesmente parado.
Não te drenarei desse jeito, por quem quer que seja – ele se inclinou e, sem esforço, me
levantou e me colocou na sua cadeira. – Sente-se aqui um pouco. E coma. Não preciso disso
agora. E quando estiver melhor, vá até Sagaz, da minha parte. Comunique-lhe que eu disse que
você é uma distração. Quero um rapaz da cozinha para trazer as minhas refeições, de agora em
diante.
– Veracidade – comecei.
– Não – ele me corrigiu. – Diga “meu príncipe”. Porque nisso eu sou o seu príncipe e não