O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb
– Veracidade, garoto, não o seu príncipe. Não é príncipe de ninguém quem se senta comuma camisa suada e barba de dois dias. Mas que absurdo é esse que você disse? Tenhocerteza de que foi combinado que você aprenderia o Talento. Lembro-me bem de como osgolpes da língua de Paciência demoliram a determinação do meu pai.Permitiu a si mesmo esboçar um sorriso cansado.– Galeno tentou me ensinar, mas eu não tinha aptidão. Disseram-me que com bastardos éfrequente...– Espere – ele resmungou e, num instante, estava dentro da minha mente. – Isso é maisrápido – explicou, como uma espécie de pedido de desculpas, e então, resmungando consigomesmo: – O que é isto que te anuvia tanto? Ah! – e então desapareceu outra vez da minhamente, e tudo feito tão ágil e facilmente quanto Bronco ao tirar um carrapato da orelha de umcão. Sentou-se por muito tempo, calado, e eu também, pensativo.– Eu sou forte nisso, como o seu pai era. O Galeno não.– Então como ele se tornou o Mestre do Talento? – perguntei calmamente. Fiquei pensandose Veracidade não estaria dizendo aquilo apenas para me fazer sentir menos frustrado.Veracidade fez uma pausa como se se tratasse de um assunto delicado.– Galeno era a... mascote da Rainha Desejo. Um favorito. A rainha indicou enfaticamenteGaleno como aprendiz de Solicitude. Penso com frequência que a nossa velha Mestra doTalento estava desesperada quando o aceitou como aprendiz. É que Solicitude sabia queestava morrendo, entende? Creio que agiu apressadamente e, perto do fim, arrependeu-se dadecisão que tomou. Não creio que ele tenha tido metade do treino que deveria antes de setornar “mestre”. Mas, enfim, anda por aí, e é o que nós temos.Veracidade pigarreou e pareceu pouco à vontade.– Vou falar com você o mais francamente que posso, garoto, pois vejo que sabe fechar aboca quando isso é prudente. O lugar foi dado a Galeno como um emprego conveniente, e nãoporque ele merecesse. Não penso que alguma vez tenha compreendido completamente osignificado de ser Mestre do Talento. Ah, ele sabe bem que a posição traz poder, e não temescrúpulos em se aproveitar disso. Mas Solicitude fazia mais do que andar por aí se gabandopor sua posição elevada. Solicitude era conselheira de Generoso, e fazia a ligação entre o reie todos os que utilizavam o Talento a seu serviço. Assumia a tarefa de procurar e ensinartantos quantos manifestassem verdadeira aptidão e o juízo necessário para utilizar bem oTalento. Este círculo é o primeiro grupo que Galeno treinou desde o tempo em que Cavalariae eu éramos rapazes. E não acho que foram bem ensinados. Não, eles estão treinados, comomacacos e papagaios são ensinados a imitar homens, mas sem compreender o que fazem. Massão o que tenho.Veracidade olhou pela janela e falou suavemente.– Galeno não tem elegância ou sofisticação. É tão bruto quanto a mãe, e tão presunçosoquanto ela.Veracidade fez uma pausa abruptamente, e suas bochechas enrubesceram como se tivessedito algo que não devia. Continuou mais calmo:– O Talento é como uma linguagem, garoto. Não preciso gritar para fazê-lo entender aquiloque eu quero. Posso pedir educadamente, ou sugerir, ou até deixar que você saiba o que querocom um sinal de cabeça ou um sorriso. Posso utilizar o Talento num homem, e deixá-lopensando que foi ideia dele me agradar. Mas tudo isso escapa a Galeno, tanto no uso do
Talento como na forma de ensiná-lo. Privação e dor são uma maneira de baixar as defesas deum homem, e essa é a única maneira em que Galeno acredita. Mas Solicitude utilizava antes aastúcia em vez disso. Fazia-me olhar para um papagaio de papel, ou para um pouco de póflutuando num raio de sol, focando-me nele como se não houvesse mais nada no mundo. Esubitamente ali estava ela, dentro da minha mente comigo, rindo e me elogiando. Ela meensinou que estar aberto era simplesmente não estar fechado. E que entrar na mente de outrapessoa depende sobretudo de sentir vontade de sair de dentro de si próprio. Compreende,garoto?– Mais ou menos – eu me esquivei.– Mais ou menos – ele suspirou. – Eu podia te ensinar a usar o Talento, se tivesse o temponecessário, mas não tenho. Mas me diga: você não ia bem nas suas lições, antes de ele tetestar?– Não. Eu nunca tive nenhuma aptidão... espere! Não é verdade! O que estou dizendo, o queando pensando?Embora estivesse sentado, oscilei de repente e minha cabeça se inclinou até o braço dacadeira de Veracidade. Ele estendeu a mão e me segurou.– Fui rápido demais, imagino. Acalme-se agora, garoto. Alguém anuviou a sua mente.Confundiu você, da mesma maneira como eu faço com os navegadores e timoneiros dosNavios Vermelhos. Convencê-los de que já avistaram a costa e que o curso está certo quandorealmente estão se dirigindo para uma contracorrente. Convencê-los de que já passaram porum ponto que ainda não avistaram. Alguém te convenceu de que não podia usar o Talento.– Galeno – falei com certeza. Eu quase sabia em que momento aconteceu. Ele tinha seforçado para dentro de mim naquela tarde, e desde aí tudo mudou. Vivi num nevoeiro, todosaqueles meses...– Provavelmente. Embora, se você tivesse tentado usar o seu Talento nele, com certezaveria o que Cavalaria fez com ele. Ele odiava ardentemente o seu pai, antes de Cavtransformá-lo num cãozinho de estimação. Nós nos sentimos muito mal por isso. Teríamosdesfeito o que o seu pai fez, se tivéssemos descoberto uma maneira de fazer isso, e evitadoque Solicitude descobrisse. Mas Cav era forte no Talento e nós éramos ainda garotos, e Cavestava com muita raiva quando fez isso. Por causa de uma coisa que Galeno tinha feitocomigo, ironicamente. Mesmo quando Cavalaria não estava zangado, senti-lo usando oTalento em você era como ser pisoteado por um cavalo. Ou puxado pelo curso rápido de umrio. Entrava apressadamente, intrometendo-se nos seus pensamentos, deixava a informaçãoque desejava comunicar e ia embora – ele fez uma pausa outra vez e estendeu a mão para tirara tampa de um prato de sopa na bandeja. – Creio que sempre imaginei que você sabia de tudoisso. Mas é claro que não tinha como você saber, caramba. Quem é que poderia ter tecontado?Tentei aproveitar uma brecha.– Você podia me ensinar a usar o Talento?– Se eu tivesse tempo. Muito tempo. Você é muito como o Cav e eu éramos, quandoaprendemos. Errático. Forte, mas sem ideia de como tirar proveito dessa força. E Galeno...bem... ele te traumatizou, suponho. Você tem muros que nem consigo começar a penetrar, e eusou forte. Teria de aprender a baixá-los. É uma coisa difícil. Mas podia te ensinar, sim. Sevocê e eu tivéssemos um ano, e nada mais para fazer – empurrou a sopa para o lado. – Mas
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– Veracidade, garoto, não o seu príncipe. Não é príncipe de ninguém quem se senta com
uma camisa suada e barba de dois dias. Mas que absurdo é esse que você disse? Tenho
certeza de que foi combinado que você aprenderia o Talento. Lembro-me bem de como os
golpes da língua de Paciência demoliram a determinação do meu pai.
Permitiu a si mesmo esboçar um sorriso cansado.
– Galeno tentou me ensinar, mas eu não tinha aptidão. Disseram-me que com bastardos é
frequente...
– Espere – ele resmungou e, num instante, estava dentro da minha mente. – Isso é mais
rápido – explicou, como uma espécie de pedido de desculpas, e então, resmungando consigo
mesmo: – O que é isto que te anuvia tanto? Ah! – e então desapareceu outra vez da minha
mente, e tudo feito tão ágil e facilmente quanto Bronco ao tirar um carrapato da orelha de um
cão. Sentou-se por muito tempo, calado, e eu também, pensativo.
– Eu sou forte nisso, como o seu pai era. O Galeno não.
– Então como ele se tornou o Mestre do Talento? – perguntei calmamente. Fiquei pensando
se Veracidade não estaria dizendo aquilo apenas para me fazer sentir menos frustrado.
Veracidade fez uma pausa como se se tratasse de um assunto delicado.
– Galeno era a... mascote da Rainha Desejo. Um favorito. A rainha indicou enfaticamente
Galeno como aprendiz de Solicitude. Penso com frequência que a nossa velha Mestra do
Talento estava desesperada quando o aceitou como aprendiz. É que Solicitude sabia que
estava morrendo, entende? Creio que agiu apressadamente e, perto do fim, arrependeu-se da
decisão que tomou. Não creio que ele tenha tido metade do treino que deveria antes de se
tornar “mestre”. Mas, enfim, anda por aí, e é o que nós temos.
Veracidade pigarreou e pareceu pouco à vontade.
– Vou falar com você o mais francamente que posso, garoto, pois vejo que sabe fechar a
boca quando isso é prudente. O lugar foi dado a Galeno como um emprego conveniente, e não
porque ele merecesse. Não penso que alguma vez tenha compreendido completamente o
significado de ser Mestre do Talento. Ah, ele sabe bem que a posição traz poder, e não tem
escrúpulos em se aproveitar disso. Mas Solicitude fazia mais do que andar por aí se gabando
por sua posição elevada. Solicitude era conselheira de Generoso, e fazia a ligação entre o rei
e todos os que utilizavam o Talento a seu serviço. Assumia a tarefa de procurar e ensinar
tantos quantos manifestassem verdadeira aptidão e o juízo necessário para utilizar bem o
Talento. Este círculo é o primeiro grupo que Galeno treinou desde o tempo em que Cavalaria
e eu éramos rapazes. E não acho que foram bem ensinados. Não, eles estão treinados, como
macacos e papagaios são ensinados a imitar homens, mas sem compreender o que fazem. Mas
são o que tenho.
Veracidade olhou pela janela e falou suavemente.
– Galeno não tem elegância ou sofisticação. É tão bruto quanto a mãe, e tão presunçoso
quanto ela.
Veracidade fez uma pausa abruptamente, e suas bochechas enrubesceram como se tivesse
dito algo que não devia. Continuou mais calmo:
– O Talento é como uma linguagem, garoto. Não preciso gritar para fazê-lo entender aquilo
que eu quero. Posso pedir educadamente, ou sugerir, ou até deixar que você saiba o que quero
com um sinal de cabeça ou um sorriso. Posso utilizar o Talento num homem, e deixá-lo
pensando que foi ideia dele me agradar. Mas tudo isso escapa a Galeno, tanto no uso do