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audiência privada com Sagaz.
Fui enviado para confirmar o relato dela e vi como a garota era mantida como um cão aos
pés da cadeira do nobre, e mais, como a barriga dela havia começado a crescer pela gravidez.
Portanto, não foi difícil encontrar um momento, enquanto ele me oferecia vinho em copos de
cristal fino e me implorava pelas mais recentes notícias da corte do rei em Torre do Cervo,
em que pudesse erguer o copo dele diante da luz e elogiar a qualidade de ambos, copo e
vinho. Parti alguns dias depois, com a missão completa, as amostras de papel que tinha
prometido a Penacarriço e os desejos comunicados pelo nobre de que eu tivesse uma boa
viagem de volta para casa. O nobre estava indisposto nesse dia. Morreu, em meio a sangue,
loucura e espuma enchendo a sua boca, cerca de um mês depois. A prima tomou conta da
garota e da criança. Até hoje não tenho remorsos, seja pelo que fiz, seja pela escolha de uma
morte lenta.
Quando não andava distribuindo a morte aos Forjados, servia o meu senhor Príncipe
Veracidade. Lembro-me da primeira vez que subi todas aquelas escadas em direção à sua
torre, equilibrando a bandeja enquanto subia. Tinha esperado encontrar um guarda ou sentinela
lá no topo. Não havia ninguém. Bati à porta e, não recebendo nenhuma resposta, entrei
silenciosamente. Veracidade estava sentado numa cadeira ao lado da janela. Um vento quente
de verão vinha do oceano e soprava dentro do cômodo. Era um quarto que poderia ter sido
agradável, iluminado e cheio de ar fresco num dia abafado de verão. Em vez disso, parecia
uma cela. Havia a cadeira ao lado da janela e uma pequena mesa perto dela. Nos cantos do
quarto, o chão estava poeirento e entulhado com pedaços de cana espalhados. Veracidade
estava com o queixo apoiado no peito, como se cochilasse, não fosse pelo fato de que, para os
meus sentidos, o quarto estava impregnado da intensidade do seu esforço. O cabelo estava
desarrumado, o queixo com barba de um dia. As roupas pendiam sobre ele.
Fechei a porta, empurrando-a com um pé, e levei a bandeja para a mesa. Repousei-a e
fiquei parado ao lado dela, esperando silenciosamente. Passados alguns minutos, ele voltou de
onde quer que tivesse estado. Olhou para mim com um fantasma do seu antigo sorriso e, em
seguida, para a bandeja.
– O que é isso?
– Café da manhã, senhor. Todo mundo comeu faz algumas horas, com exceção do senhor.
– Eu comi, garoto. Hoje cedo. Uma sopa de peixe horrível. Os cozinheiros deviam ser
enforcados por isso. Ninguém devia ter de encarar um peixe logo de manhã.
Ele parecia hesitante, como um velhote trêmulo tentando lembrar os dias da juventude.
– Isso foi ontem, senhor.
Descobri os pratos. Pão quente com mel e passas, frios, um prato de morangos e um
pequeno pote de creme de leite para acompanhá-los. Tudo servido em pequenas porções,
doses quase infantis. Servi o chá vaporoso na xícara que estava à espera. Tinha sido
fortemente temperado com gengibre e hortelã, para esconder o gosto forte do casco-de-elfo
moído.
Veracidade olhou aquilo de relance e em seguida me encarou.
– Breu nunca tem piedade, não é? – ele falou aquilo muito casualmente, como se o nome de
Breu fosse mencionado todos os dias pela torre inteira.
– Precisa comer, se pretende continuar – eu lhe disse numa voz neutra.
– Suponho que sim – respondeu ele, num tom fatigado, e virou-se para a bandeja como se