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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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ou que este e aquele inimigos foram confundidos pelo Talento do rei. E, contudo, não há nada

sobre como foi feito ou...

O desespero abateu-se sobre mim outra vez.

– Deixe isso para lá. Bastardos não têm de saber essas coisas. Parece que provei isso.

Um silêncio se instaurou entre nós. Por fim, Breu respirou pesadamente.

– Bem. Seja como for. Também estive estudando o Forjamento durante esses últimos meses.

Mas tudo o que aprendi sobre isso foi o que não é e o que não funciona. A única cura que

encontrei é o remédio mais antigo que se conhece para o que quer que seja.

Enrolei e apertei o pergaminho para o qual eu estava olhando, adivinhando o que estava por

vir. E não me enganei.

– O rei me incumbiu de te dar uma missão.

Naquele verão, no espaço de três meses, matei dezessete vezes para o rei. Se não tivesse

matado antes, por vontade própria e em legítima defesa, teria sido muito mais difícil.

De início, as missões pareciam ser simples. Eu, um cavalo e cestas de pão envenenado.

Cavalgava estradas onde viajantes tinham relatado ser atacados e, quando os Forjados me

atacavam, fugia, deixando cair um rastro de pães. Se fosse um homem de armas normal, talvez

eu tivesse ficado menos assustado. Mas a vida toda eu tinha me acostumado a depender da

Manha para perceber a presença de outros. Para mim, era equivalente a ter de trabalhar sem

usar os olhos. E logo descobri que nem todos os Forjados tinham sido sapateiros ou tecelões.

O segundo bando que envenenei continha vários soldados. Tive a sorte de a maior parte deles

começar a brigar pelos pães quando me puxaram de cima do cavalo. Levei um corte profundo

de uma faca, e até hoje tenho uma cicatriz no ombro esquerdo. Eram fortes e competentes e

pareciam lutar como uma unidade, talvez porque tivessem sido treinados a fazer isso quando

eram completamente humanos. Teria morrido se eu não tivesse gritado a eles que era bobagem

lutarem comigo enquanto os outros comiam todo o pão. Eles me largaram, e eu, com esforço,

retomei o cavalo e fugi.

Os venenos não eram mais cruéis do que precisavam ser, mas, para que fossem eficazes

mesmo na menor dosagem, fomos forçados a usar alguns dos mais fortes. Os Forjados não

morriam pacificamente, mas era a morte mais rápida que Breu tinha conseguido preparar.

Agarravam ansiosamente as mortes que eu distribuía a eles, e eu não tinha de presenciar as

convulsões espumantes, ou ver os corpos espalhados pela estrada. Quando as notícias de

Forjados tombando pelas estradas do Reino chegaram a Torre do Cervo, Breu já tinha

espalhado um rumor de que provavelmente tinham morrido por comer peixe estragado. Os

familiares recolhiam os corpos e davam a eles um funeral adequado. Eu dizia a mim mesmo

que provavelmente se sentiriam aliviados e que os Forjados tinham encontrado um fim mais

rápido do que se morressem de fome durante o inverno. E assim me acostumei a matar, e tinha

já mais de vinte mortes contabilizadas antes de ter de confrontar os olhos de um homem e

então matá-lo.

Isso também não foi tão difícil como poderia ter sido. Ele era um fidalgote que possuía

terras nas imediações do Lago do Bode. Um relato chegou a Torre do Cervo de que ele, num

acesso de cólera, tinha espancado a filha de um criado e a deixado mentalmente incapacitada.

Isso foi suficiente para o Rei Sagaz fazer uma careta. O nobre tinha pagado a dívida de sangue

por completo e, ao aceitar o pagamento, o criado tinha perdido o direito a qualquer forma de

justiça do rei. Mas alguns meses mais tarde, veio à corte uma prima da garota e pediu uma

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