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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Portanto, eu dou tônicos e elixires para ele e tento fazê-lo descansar. Mas ele não consegue.

Diz que não ousa descansar. Diz apenas que todos os seus esforços são necessários para iludir

os navegadores dos Navios Vermelhos, para enviar barcos contra rochedos, para desencorajar

os capitães. E assim se levanta da cama e vai para a sua cadeira ao lado de uma janela, e ali

fica sentado, o dia inteiro.

– E o círculo de Galeno? Eles não servem para nada? – fiz a pergunta com alguma inveja,

quase desejando ouvir que não faziam diferença alguma.

Breu suspirou.

– Penso que os usa como eu usaria pombos-correio. Enviou-os para as torres e os usa para

enviar avisos aos soldados e para receber deles a informação de que os navios foram

avistados. Mas a tarefa de defender a costa ele não confia a nenhuma outra pessoa. Outros, diz

ele, seriam muito inexperientes; poderiam se trair diante daqueles em quem utilizassem o

Talento. Não entendo. Mas sei que ele não pode continuar assim por muito mais tempo. Rezo

para que o verão acabe, para que as tempestades de inverno enviem os Navios Vermelhos de

volta para casa. Deveria haver alguém que o substituísse nesse trabalho. Receio que o

consuma por completo.

Tomei isso como uma crítica ao meu fracasso e me recolhi num silêncio magoado. Vagueei

pelos aposentos, achando-os ao mesmo tempo familiares e estranhos após meses de ausência.

Os utensílios do trabalho dele com ervas estavam espalhados, como sempre. A presença de

Sorrateiro era muito fácil de reconhecer, com pedaços de ossos fedorentos distribuídos pelos

cantos. Como sempre, havia uma grande quantidade de tábuas e rolos de pergaminho dispostos

sobre várias cadeiras. Este lote parecia dizer respeito sobretudo aos Antigos. Andei em volta

deles, intrigado pelas ilustrações coloridas. Uma tábua, mais velha e mais elaborada do que as

restantes, continha a representação de um Antigo como uma espécie de pássaro ornado de ouro

com uma cabeça em forma humana coroada por penas. Comecei a decifrar as palavras. Eram

em Piche, uma língua antiga nativa de Calcede, ao sul dos Ducados. Muitos dos símbolos

pintados tinham se apagado ou sido lascados em madeira antiga, e eu nunca fui fluente em

Piche. Breu veio e parou ao meu lado.

– Sabe – disse com gentileza –, não foi fácil para mim, mas mantive a minha palavra.

Galeno exigiu controle absoluto sobre os estudantes. Estipulou expressamente que ninguém

poderia contactá-lo ou interferir do jeito que fosse na sua disciplina e instrução. E, como te

disse, no Jardim da Rainha, sou cego e sem influência.

– Eu sabia disso – balbuciei.

– Contudo, não discordei das ações de Bronco. Apenas a palavra que dei ao meu rei me

refreou de te chamar – fez uma pausa cautelosa. – Tem sido um período difícil, eu sei.

Gostaria de ter podido te ajudar. E você não deve se sentir tão mal por ter...

– Falhado – contribuí com a palavra enquanto ele procurava por uma mais gentil. Suspirei e

subitamente admiti a minha dor. – Deixemos isso para lá, Breu. É algo que eu não posso

mudar.

– Eu sei – e então, ainda mais cautelosamente: – Mas talvez possamos usar o que você

aprendeu do Talento. Se puder me ajudar a compreendê-lo, talvez possa arquitetar melhores

maneiras de poupar Veracidade. Por muitos anos, o conhecimento foi mantido muito secreto...

quase não há menção dele nos velhos rolos de pergaminhos, com exceção de dizerem que

nesta e naquela batalha o resultado foi invertido por ação do Talento do rei sobre os soldados,

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