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O que é que te perturba?
Olhei para o chão, sentindo a verdade nas suas palavras. Queria contar para ele todas as
desgraças que tinham acontecido comigo, mas não queria dizer uma palavra sobre aquilo a
ninguém.
– Vou te contar tudo o que sei sobre o ataque a Bronco. – E assim fiz.
– E esse que viu tudo isso? – perguntou-me quando terminei. – Conhecia o homem que
atacou Bronco?
– Não conseguiu vê-lo bem. – Eu me estiquei.
Era inútil dizer a Breu que eu sabia exatamente qual era o cheiro dele, mas tinha apenas
uma vaga imagem de sua fisionomia.
Breu ficou em silêncio por um momento.
– Bem, tanto quanto puder, fique de ouvido em pé. Gostaria de saber quem se tornou tão
corajoso que pensa que pode matar o mestre do estábulo do rei dentro do próprio estábulo.
– Então você não pensa que foi alguma desavença pessoal de Bronco? – perguntei
cautelosamente.
– Talvez tenha sido. Mas não vamos tirar conclusões precipitadas. Para mim, tenho a
sensação de ser uma jogada. Alguém está construindo alguma coisa, mas falhou na colocação
do primeiro tijolo. Para nossa vantagem, espero.
– Pode me dizer por que você acha isso?
– Poderia, mas não farei. Quero deixar a sua mente livre para encontrar os seus próprios
pressupostos, independentemente dos meus. Agora venha aqui. Vou te mostrar os chás.
Estava mais do que um pouco magoado por ele não ter me perguntado nada sobre o meu
tempo com Galeno ou o teste. Parecia aceitar o meu fracasso como uma coisa esperada. Mas
quando me mostrou os ingredientes que tinha selecionado para os chás de Veracidade, fiquei
horrorizado com a potência dos estimulantes que ele estava usando.
Tinha visto Veracidade pouco ultimamente. Em contrapartida, Majestoso estava sempre em
destaque. Tinha passado o mês anterior em idas e vindas. Estava sempre acabando de chegar
ou prestes a partir, e cada uma das comitivas parecia mais rica e mais ornamentada do que a
anterior. Parecia que estava usando a desculpa de andar à procura de uma noiva para o irmão
com o intuito de se ornamentar com penas mais brilhantes do que as de qualquer pavão. A
opinião comum era de que ele precisava se apresentar dessa maneira para impressionar
aqueles com quem negociava. Pessoalmente, achava aquilo um desperdício de dinheiro que
podia ter sido usado nas nossas defesas. Quando Majestoso estava fora, sentia-me aliviado,
pois sua hostilidade em relação a mim tinha aumentado recentemente, e ele encontrava
diversas pequenas maneiras de exprimir isso.
Nos breves encontros fortuitos que tive durante esse período com Veracidade ou o rei,
ambos aparentavam estar sempre tensos e desgastados, mas Veracidade, em especial, parecia
quase pasmado. Impassível e distraído, apenas uma vez tinha percebido a minha presença, e
então sorriu cansadamente e disse que eu tinha crescido muito. A nossa conversa tinha se
resumido a isso. Mas eu tinha notado que ele comia como um inválido, sem apetite, recusando
carne e pão como se fosse um esforço muito grande mastigar e engolir, e em vez disso vivia à
custa de papas de cereais e sopas.
– Tem usado demais o Talento. Pelo menos assim me disse Sagaz. Mas por que é que o suga
desse jeito e faz desaparecer a carne dos seus ossos, isso ele não conseguiu me explicar.