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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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sono profundo e sem sonhos, reservado para filhotes e tardes quentes de primavera.

Acordei com arrepios, várias horas depois. Estava já completamente escuro, e o calor tênue

daquele início de primavera tinha se dissipado. Narigudo acordou ao mesmo tempo que eu, e

juntos rastejamos para fora do esconderijo.

Um céu noturno pairava sobre Torre do Cervo, com estrelas luzindo, brilhantes e frias. O

odor da baía era mais forte, como se os cheiros diurnos de homens, cavalos e cozidos fossem

coisas temporárias que deviam se render cada noite ao poder do oceano. Percorremos

caminhos desertos, passando por pátios de exercícios, celeiros e lagares. Tudo estava quieto e

silencioso. À medida que nos aproximávamos da torre central, comecei a ver tochas ainda

ardentes e a ouvir vozes ainda envolvidas em conversa, mas tudo isso parecia tomado por uma

espécie de cansaço, os últimos vestígios da folia perdendo a força antes que o alvorecer

viesse romper nos céus. Ainda assim, contornamos a torre central a uma longa distância,

encontrando gente de sobra.

Dei por mim seguindo Narigudo de volta ao estábulo. Ao nos aproximarmos das portas

pesadas, fiquei imaginando como entraríamos, mas a cauda de Narigudo começou a abanar

rapidamente à medida que nos movíamos, e até o meu pobre nariz captou o cheiro de Bronco

no escuro. Ele se levantou do caixote de madeira em que estava sentado ao lado da porta.

– Aí está você – disse numa voz calma. – Vamos lá, então. Vamos. – E ficou parado ao lado

das portas pesadas, abriu-as e nos deixou entrar.

Nós o seguimos pela escuridão, entre as baias enfileiradas do estábulo, passando por

tratadores e adestradores que tinham sido acomodados ali para passar a noite, e depois pelos

nossos próprios cavalos, cães e rapazes do estábulo, que dormiam entre eles, e então por uma

escadaria que interligava as baias e a falcoaria. Seguimos Bronco para cima, por degraus de

madeira rangente, até alcançar outra porta que ele abriu. A luz amarelo-clara de uma vela

derretendo sobre a mesa me cegou temporariamente. Continuamos seguindo-o, agora para

dentro de um quarto de teto inclinado, que cheirava a Bronco, a couro e a óleos, unguentos e

ervas que eram parte do seu trabalho. Ele fechou a porta com firmeza atrás de nós e, quando

passou por mim e Narigudo para acender uma nova vela em cima da outra que estava sobre a

mesa, quase acabada, senti nele o aroma adocicado do vinho.

A luz se espalhou, e Bronco sentou-se numa cadeira de madeira em frente à mesa. Parecia

diferente, vestido com um tecido fino e elegante, marrom e amarelo, e um gibão ornado com

fio de prata. Pôs uma mão no joelho, com a palma para cima, e Narigudo imediatamente foi até

ele. Bronco esfregou as orelhas caídas do cachorro e bateu carinhosamente nas costelas,

rindo-se do pó que se levantou do pelo dele.

– Vocês dois formam um belo par – disse, falando mais para o cãozinho do que para mim. –

Olhem para vocês. Sujos como vagabundos. Menti hoje para o meu rei por causa de vocês. É a

primeira vez na vida que faço uma coisa dessas. Parece que a desgraça de Cavalaria vai me

levar junto com ele. Disse-lhe que você estava limpo e dormindo profundamente, exausto da

viagem. Não ficou nada contente por ter de esperar para te ver, mas, felizmente para nós, tinha

coisas mais significantes com que se preocupar. A renúncia de Cavalaria deixou muitos

nobres alvoroçados. Alguns veem nisso uma oportunidade para tirar vantagem, e outros estão

desapontados pela traição de um rei que admiravam. Sagaz está tentando acalmar a todos.

Deixou espalhar o rumor de que foi Veracidade quem negociou com os Chyurda desta vez. Na

minha opinião, àqueles que acreditam nisso não deveria ser permitido andar por aí. Mas eles

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