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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Algum tempo depois do meu regresso, Breu abriu a porta para mim. Eu estava de mau

humor por causa da forma como ele tinha me negligenciado durante todo esse tempo, e subi as

escadarias mais lentamente do que alguma vez tinha feito. Quando cheguei lá, ele olhou para

mim enquanto prosseguia com o trabalho de esmagar sementes com um pilão, e tinha o rosto

muito cansado.

– Estou contente por te ver – disse, sem nenhum contentamento em sua voz.

– É por isso que você veio tão depressa me dar as boas-vindas quando voltei – observei

amargamente.

Ele fez uma pausa no trabalho.

– Lamento. Pensei que você precisasse de algum tempo sozinho, para se recuperar – voltou

a olhar para as sementes. – O inverno e a primavera também não foram fáceis para mim. Não é

melhor virarmos essa página e seguir em frente?

Era uma sugestão gentil e razoável. Eu sabia que era sensata.

– Tenho alguma escolha? – perguntei sarcasticamente.

Breu terminou de esmagar as sementes. Despejou o resultado numa peneira fina e o colocou

sobre uma taça para escorrer.

– Não – disse por fim, como se tivesse considerado bem o que eu tinha dito. – Não, você

não tem, e eu também não. Em muitas coisas, não temos escolha.

Olhou para mim, percorrendo-me de cima a baixo, e a seguir começou a amassar as

sementes outra vez.

– Você – disse – vai parar de beber tudo o que não seja água ou chá até o fim do verão. O

seu suor está fedendo a vinho. E os seus músculos estão muito flácidos para alguém tão jovem.

Um inverno com as meditações de Galeno não fez bem nenhum ao seu corpo. Dê um jeito de se

exercitar. Comece, a partir de hoje, a subir a torre de Veracidade quatro vezes por dia. Você

levará para ele comida e os chás que eu te ensinarei como preparar. Nunca chegue perto dele

com uma cara mal-humorada, mas, sim, seja sempre alegre e amistoso. Talvez algum tempo

servindo Veracidade te convença de que eu tinha razões para não centrar a minha atenção em

você. É isso o que você vai fazer todos os dias que estiver em Torre do Cervo. Haverá outros

dias em que irá executar outras tarefas para mim.

Não foram necessárias muitas palavras de Breu para despertar vergonha em mim. A

percepção que tinha da minha vida passou de grande tragédia a autocomiseração infantil num

intervalo de apenas alguns minutos.

– Tenho sido ocioso – admiti.

– Tem sido estúpido – Breu concordou. – Você teve um mês para dar um jeito na sua vida.

E se comportou como... um fedelho mimado. Não me espanta que Bronco tenha nojo de você.

Havia muito tempo que eu tinha parado de me surpreender com o que Breu sabia, mas dessa

vez estava certo de que ele não sabia a verdadeira razão, e eu não desejava partilhá-la com

ele.

– Já descobriu quem tentou matá-lo?

– Não... tentei, na verdade.

Agora Breu parecia zangado, e depois intrigado.

– Garoto, você definitivamente não é mais o mesmo. Há seis meses você teria vasculhado o

estábulo até deixá-lo de cabeça para baixo para desvendar um mistério desses. Há seis meses,

se fosse dado a você um mês de férias, teria preenchido cada dia com algo que valesse a pena.

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