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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Nessa época, havia mais de mil almas conhecidas por terem sido Forjadas.

Bronco tinha falado sério. Não tinha mais nada a ver comigo. Eu já não era bem-vindo no seu

estábulo e nos seus canis. Garrano, em particular, deliciava-se selvagemente com isso.

Embora frequentemente se ausentasse com Majestoso, se calhasse de ele estar no estábulo,

aparecia para bloquear a minha entrada.

– Permita-me que traga o seu cavalo, senhor – dizia-me obsequiosamente. – O mestre do

estábulo prefere que apenas os rapazes do estábulo lidem com os cavalos dentro das baias.

E assim eu era forçado a ficar esperando, como um fidalgote incompetente, enquanto ele

punha a sela em Fuligem e a trazia para mim. O próprio Garrano limpava a baia dela, levava a

forragem e a escovava, e me corroía por dentro ver o quão rapidamente ela o tinha aceitado. É

apenas um cavalo, dizia a mim mesmo, e não deve ser considerada culpada. Mas era mais um

abandono.

De repente, tinha tempo demais à disposição. Antes disso, minhas manhãs eram sempre

passadas trabalhando com Bronco. Agora, eram minhas. Hode estava ocupada treinando

novatos para a defesa da costa. Aceitava que eu treinasse com eles, mas eram lições que eu já

tinha aprendido havia muito tempo. Penacarriço estava fora o verão todo, como era habitual.

Não sabia como pedir desculpas a Paciência, e não queria nem pensar em Moli. Mesmo as

minhas incursões pelas tabernas de Torre do Cervo tinham se tornado solitárias. Quim tinha se

tornado aprendiz de um titereiro; e Rodrigo tinha zarpado como marinheiro. Eu estava

desocupado e sozinho.

Foi um verão de tristeza, e não apenas para mim. Enquanto eu estava sozinho, amargo e me

tornava grande demais para todas as minhas roupas, enquanto me irritava e rosnava a quem

fosse suficientemente tolo para tentar falar comigo, e bebia até perder os sentidos várias vezes

por semana, ainda tinha consciência do quanto os Seis Ducados estavam sendo torturados. Os

Salteadores dos Navios Vermelhos, mais ousados do que alguma vez tinham sido, assolavam

constantemente a nossa linha costeira. Naquele verão, além de ameaças, começaram

finalmente a fazer exigências. Grãos, gado, o direito de pegar o que desejassem dos nossos

portos marítimos, o direito de acostar os seus barcos e viver das nossas terras e pessoas

durante a estação, o direito de escolher gente do nosso povo como escravos... cada nova

exigência era mais intolerável que a anterior, e a única coisa mais intolerável que essas

exigências eram os Forjamentos que se seguiam a cada recusa do rei.

O povo começava a abandonar os portos marítimos e as aldeias da costa. Não se podia

censurá-los por isso, embora essa reação tornasse a nossa linha costeira ainda mais

vulnerável. Mais soldados foram contratados e os impostos foram aumentados para pagá-los,

e o povo resmungava sob o fardo dos impostos e do medo dos Salteadores dos Navios

Vermelhos. Ainda mais estranhos eram os Ilhéus que vinham à nossa costa nos seus barcos de

família, deixando os navios piratas para trás, implorando-nos asilo, contando narrativas

incríveis de caos e tirania nas Ilhas Externas, onde os Navios Vermelhos tinham pleno

domínio. Constituíam talvez uma benção duvidosa. Eram contratados a baixo custo como

soldados, embora pouca gente realmente confiasse neles. Mas, pelo menos, as narrativas das

Ilhas Externas sob o domínio dos Navios Vermelhos eram suficientemente preocupantes para

manter longe de todos a ideia de acatar as exigências dos Salteadores.

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