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suficiente para todos os prisioneiros tomarem um gole. Que se lembrava, não tinha
recebido nada de estranho para comer, nem tinha sido tocada de nenhuma maneira
especial. E, portanto, não podia me fornecer nenhuma pista sobre o mecanismo do
Forjamento. Isso foi um grande desapontamento para mim, pois esperava que, aprendendo
como a coisa era feita, pudesse encontrar uma maneira de desfazê-la.
Eu me esforcei muito para trazê-la de volta a um comportamento humano usando
argumentos racionais, mas de nada me serviram. Parecia compreender as minhas palavras,
mas não agia em resposta a elas. Mesmo quando lhe eram dados dois pães e ela era
alertada de que deveria guardar um para o dia seguinte ou não teria nada para comer,
deixava o segundo pão cair no chão, pisava nele e, no dia seguinte, comia os restos que ela
própria tinha jogado ao chão, não se importando com a sujeira presa neles. Não
demonstrava nenhum interesse pelo trabalho de costura ou por qualquer outro passatempo,
nem mesmo pelos brinquedos de uma criança. Além de comer e dormir, satisfazia-se
passando a vida sentada ou deitada, a sua mente tão ociosa quanto o corpo. Se lhe
oferecesse doces ou bolos, comia-os sem parar até vomitar, e depois disso comia ainda
mais.
Tratei-a com vários elixires e infusões de ervas. Deixei-a em jejum, eu a fiz tomar banhos
de vapor e dei purgantes para ela. Banhos quentes e frios não tiveram outro efeito que não
fosse deixá-la com raiva. Eu a fiz dormir um dia e uma noite inteiros, o que não levou a
nenhuma mudança. Eu a dopei com casco-de-elfo de tal forma que não conseguisse dormir
por duas noites, mas isso apenas a tornou irritadiça. Mimei-a com gentilezas por algum
tempo, mas, como nos períodos em que lhe impus as mais duras restrições, isso não
ocasionou nenhuma diferença nem nela, nem na maneira como me encarava. Se tinha fome,
fazia gentilezas e sorria agradavelmente quando instruída, mas logo que a comida era
fornecida a ela, todas as ordens ou pedidos que se seguissem eram ignorados.
Era malignamente invejosa do seu território e posses. Mais do que uma vez tentou me
atacar, por nenhuma outra razão que não fosse o fato de eu me aventurar perto demais da
comida que ela estava comendo, e uma vez porque, subitamente, decidiu que queria ter um
anel que eu estava usando. Matava regularmente os ratos que o seu desmazelo atraía,
apanhando-os com uma impressionante rapidez e atirando-os contra a parede. Um gato que
uma vez se aventurou nos seus aposentos teve um destino semelhante.
Parecia ter pouca noção do tempo que tinha passado desde o seu Forjamento. Podia
fazer um bom relato da sua vida anterior, se ordenada a fazer isso quando estivesse com
fome, mas a respeito dos dias após o seu Forjamento, havia apenas um longo ‘ontem’.
De Neta, não pude aprender se algo tinha sido adicionado ou retirado dela para que
fosse Forjada. Não descobri se era uma coisa consumida, cheirada, ouvida ou vista. Não
determinei se era obra da habilidade ou mão de um homem, ou obra de demônios do mar,
sobre os quais alguns Estrangeiros dizem ter poder. De uma longa e cansativa experiência,
não aprendi nada.
A Neta dei uma dose tripla de sonífero numa noite, dissolvida na sua água. Então mandei
lavar o seu corpo, ajeitar o seu cabelo, e a enviei de volta à sua aldeia para ter um enterro
decente. Pelo menos uma família pôde pôr fim a uma história de Forjamento. A maior parte
das outras tem de imaginar, durante meses e anos, o que aconteceu aos que um dia amaram.
A maior parte está bem melhor não sabendo de nada.”