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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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– Não me traga nada. Não me faça nenhum favor. Tome o seu próprio rumo e seja o que

você quiser. Não quero ter mais nada a ver com você.

Falava para a parede. Na sua voz não havia nenhum sinal de piedade por nenhum de nós.

Olhei brevemente para trás ao deixar a enfermaria. Bronco não tinha se mexido, mas até as

suas costas pareciam mais velhas e menores.

Foi assim o meu retorno a Torre do Cervo. Era uma criatura diferente da criança

desamparada que tinha saído dali. Fizeram pouca festa por eu não estar morto, como havia

sido suposto. Não dei oportunidade a ninguém para fazer isso. Da cama de Bronco fui

diretamente para o meu quarto. Tomei banho e troquei de roupa. Dormi, mas não bem. Durante

o resto da Festa da Primavera, comi à noite, sozinho na cozinha. Escrevi um bilhete para o Rei

Sagaz, sugerindo que os Salteadores poderiam estar usando regularmente os poços de água em

Forja. Não me deu nenhuma resposta, e fiquei contente com isso. Não procurei entrar em

contato com mais ninguém.

Com muita pompa e cerimônia, Galeno apresentou o seu círculo completo ao rei. Um outro

além de mim tinha fracassado. Eu me envergonho agora por não conseguir lembrar o seu nome,

e, se alguma vez soube o que aconteceu com ele, já me esqueci. Como Galeno, suponho que o

deixei de lado, considerando-o insignificante.

Galeno falou comigo apenas uma vez até o fim daquele verão, e indi-retamente. Passamos

um pelo outro no terraço, pouco depois da Festa da Primavera. Ele ia andando e conversando

com Majestoso. Quando passaram por mim, olhou-me por cima da cabeça de Majestoso e

disse em tom de piada:

– Mais vidas que um gato.

Parei e olhei para eles até que ambos fossem forçados a olhar para mim. Fiz Galeno encarar

os meus olhos; então sorri e assenti com a cabeça. Nunca confrontei Galeno sobre a sua

tentativa de me enviar direto para a morte. Depois disso, parecia nunca me ver; seus olhos

passavam deslizando sobre mim, e ele deixava o ambiente assim que eu entrava.

Parecia que eu tinha perdido tudo ao perder Ferreirinho. Ou talvez, na minha amargura, eu

tenha me empenhado em destruir o pouco que me restava. Perambulei amuado pela torre

durante semanas, insultando qualquer um que fosse suficientemente tolo para falar comigo. O

Bobo me evitava. Breu não me chamava. Vi Paciência três vezes. Das duas primeiras, fui até

ela porque me chamou. Fiz apenas o mínimo esforço para ser educado. Da terceira vez,

aborrecido com a tagarelice dela sobre as mudas de rosas, levantei-me e saí sem dizer nada.

Não voltou a me chamar.

Mas chegou um momento em que senti que precisava me aproximar de alguém. Ferreirinho

tinha deixado um grande vazio na minha vida. E não tinha esperado que o meu exílio do

estábulo fosse ser tão devastador quanto. Encontros ocasionais com Bronco eram

incrivelmente desconfortáveis, visto que ambos aprendemos dolorosamente a fingir que não

nos víamos.

Queria desesperadamente ir até Moli, para lhe contar as minhas desgraças, tudo o que tinha

acontecido comigo desde que tinha chegado pela primeira vez a Torre do Cervo. Imaginava

em detalhes como nos sentaríamos na praia enquanto eu falava, e como, quando eu terminasse,

ela não me julgaria ou tentaria me oferecer conselhos, mas apenas seguraria a minha mão na

sua e ficaria quieta a meu lado. Finalmente ela saberia tudo, e não teria mais de esconder tanta

coisa dela. Não ousei imaginar nada além daquilo. Desejava desesperadamente fazer isso, e

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