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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Durante todos os meus anos em Torre do Cervo, nunca tinha pisado na enfermaria. Bronco

tinha sempre tratado das minhas doenças de criança e dos meus acidentes. Mas sabia onde era.

Passei sem ver os grupos de foliões, e subitamente me senti como se tivesse seis anos de

idade e chegado pela primeira vez a Torre do Cervo. Tinha me agarrado ao cinto de Bronco.

Todo aquele longo caminho desde o Olho da Lua, ele com a perna ferida e com curativos. Mas

nenhuma vez ele tinha me posto no cavalo de outro, ou havia confiado a outro a

responsabilidade de cuidar de mim. Forcei o caminho pelo meio das pessoas, com os seus

sinos, flores e bolos doces, para alcançar a parte interna da torre. Atrás da caserna ficava um

edifício à parte, feito de pedra caiada. Não havia ninguém ali, e entrei, sem que me

perguntassem nada, pela antessala, rumo ao quarto.

Havia juncos frescos espalhados pelo chão, e as janelas largas deixavam entrar uma lufada

de ar de primavera e luz, mas o quarto ainda dava uma sensação de confinamento e doença.

Não era um bom lugar para Bronco. Todas as camas estavam vazias, com exceção de uma.

Nenhum soldado ficava na cama durante a Festa da Primavera, salvo se fosse obrigado a isso.

Bronco jazia, de olhos fechados, numa parte do quarto coberta pela luz do sol, sobre uma

maca estreita. Nunca o tinha visto tão imóvel. Os cobertores estavam amontoados de lado e o

peito dele estava enfaixado com ataduras. Avancei silenciosamente e me sentei no chão, ao

lado da cama. Ele estava muito quieto, mas eu podia senti-lo, e as ataduras se moviam com a

lenta respiração. Peguei na mão dele.

– Fitz – ele disse, sem abrir os olhos, e agarrou com força a minha mão.

– Sim.

– Você está de volta. Está vivo.

– Estou. Vim imediatamente para cá, o mais depressa que pude. Ah, Bronco, fiquei com

medo de que você estivesse morto.

– Pensei que você estivesse morto. Os outros voltaram há vários dias – ele inspirou o ar

como se os pulmões estivessem em frangalhos. – Claro, o bastardo deixou cavalos para todos

os outros.

– Não – eu o lembrei, sem largar sua mão. – Eu sou o bastardo, lembra?

– Desculpe – abriu os olhos. No branco do olho esquerdo um labirinto de sangue estava

desenhado. Tentou sorrir. Eu podia ver que o inchaço no lado esquerdo do rosto ainda estava

diminuindo. – Bem. Formamos uma boa dupla. Você devia pôr um unguento na sua bochecha.

Está inflamando. Parece uma ferida feita pelas garras de um animal.

– Forjados – comecei, mas não consegui explicar mais. Disse apenas, suavemente: – Ele me

deixou a norte de Forja, Bronco.

A raiva provocou um espasmo no rosto dele.

– Ele se recusou a me dizer. A mim e a todos. Até enviei um homem a Veracidade, para

pedir ao príncipe que o forçasse a dizer o que tinha feito com você. Não recebi resposta. Eu

devia matá-lo.

– Deixe para lá – eu disse. – Estou de volta e vivo. Falhei no teste dele, mas o teste não me

matou. E, como você tinha dito para mim, há outras coisas na minha vida.

Bronco mexeu-se ligeiramente na cama. Pude ver que o movimento não o fez se sentir mais

confortável.

– Bem. Ele vai ficar desapontado com isso – exalou um sopro trêmulo. – Fui surpreendido.

Alguém com uma faca. Não sei quem.

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