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examinando as árvores de ambos os lados da estrada enquanto caminhava.
Estava completamente escuro quando cheguei à encosta do monte que se elevava sobre
Forja. Por algum tempo fiquei ali parado, olhando o povoado, procurando algum sinal de vida,
e então me forcei a continuar andando. O vento soprou e me proporcionou um luar oscilante.
Era uma dádiva enganadora, que confundia tanto quanto revelava. Fazia as sombras se
moverem nos cantos das casas abandonadas e projetava reflexos súbitos, que brilhavam como
facas, nas poças de água que se espalhavam pela rua. Mas ninguém andava em Forja. O porto
não tinha barcos, e nenhuma fumaça se erguia das chaminés. Os habitantes normais tinham
abandonado o local não muito depois daquele ataque fatídico, e era evidente que os Forjados
também o tinham abandonado, uma vez que ali não havia mais comida ou conforto. O povoado
nunca tinha se reconstruído realmente depois do ataque, e uma longa temporada de
tempestades de inverno e marés tinha tentado completar o que os Navios Vermelhos
começaram. Apenas o porto parecia quase normal, exceto pelos cais vazios. Os quebra-mares
ainda se curvavam sobre a baía como mãos protetoras, formando uma concha que envolvia as
docas, mas não restava nada que necessitasse dessa proteção.
Segui cautelosamente pela desolação que era Forja. Sentia minha pele formigar à medida
que passava pelas portas despencadas de suas molduras partidas em construções meio
queimadas. Foi um alívio deixar para trás o cheiro de mofo das cabanas abandonadas e me
colocar sobre as docas, contemplando a água. A estrada passava direto pelas docas e se
curvava pela margem. Um acostamento de pedra rudemente trabalhada, em outros tempos,
tinha resguardado a estrada do mar ganancioso, mas um inverno de marés e tempestades sem
intervenção humana o estava destruindo. As pedras iam se desprendendo, e pedaços de
madeira flutuante, que tinham servido de aríetes ao mar, abandonados pela maré, enchiam a
parte baixa da praia. Antes, carroças cheias de lingotes de ferro eram empurradas por essa
estrada abaixo até os barcos que as esperavam. Caminhei ao longo do quebra-mar e percebi
que o que tinha parecido ser tão duradouro visto da encosta do monte, suportaria talvez mais
uma ou duas estações invernais sem manutenção, antes que o mar o engolisse.
Acima da minha cabeça, as estrelas brilhavam intermitentemente através de nuvens que
passavam rápidas, impelidas pelo vento. A lua oscilante se velava e se revelava também,
concedendo-me vislumbres ocasionais do porto. Os rumores das ondas eram como o respirar
de um gigante inebriado. Era uma noite oriunda de um sonho, e quando olhei para o horizonte
sobre a água, avistei o fantasma de um Navio Vermelho abrindo caminho através do luar ao
entrar no porto de Forja. O casco era longo e lustroso, os mastros desprovidos de velas.
Deslizava em direção ao porto. O vermelho do casco e da proa era brilhante como sangue
fresco derramado, como se cortasse canais de sangue, em vez de água salgada. No povoado
morto atrás de mim, ninguém soltou um grito de aviso.
Fiquei parado como um idiota, colado ao quebra-mar, tremendo enquanto fitava aquela
aparição, até que o ranger de remos e o gotejar prateado de água na ponta de um deles tornou
o Navio Vermelho real.
Eu me joguei de barriga para baixo na estrada que se estendia sobre o quebra-mar, ficando
colado nela, e me arrastei da superfície lisa da estrada para o meio dos rochedos e dos
pedaços de madeira flutuante que tinham se acumulado junto do quebra-mar. O terror não me
permitia respirar. Todo o meu sangue se acumulava na cabeça, fazendo-a latejar, e não havia
ar nos meus pulmões. Tive de enfiar a cabeça entre os braços e fechar os olhos para recuperar