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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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do mar ao vento.

Nós nos espreguiçamos, Moli exclamou que já era tarde e eu senti todas as dores de uma só

vez no meu corpo convalescente. Sentar-me e deixar meu corpo esfriar numa praia gelada

tinha sido uma coisa estúpida que eu certamente não teria permitido a nenhum cavalo.

Acompanhei Moli até a casa dela e houve um momento embaraçoso à porta antes de ela se

inclinar para dar um abraço de despedida em Ferreirinho. Depois fiquei sozinho, com exceção

do meu cãozinho curioso que me pedia que lhe explicasse por que eu ia tão devagar e que

insistia que estava morto de fome e queria subir correndo o caminho da torre.

Subi penosamente o morro, gelado por dentro e por fora. Devolvi Ferreirinho ao estábulo,

fui dar boa-noite para Fuligem e então subi à torre. Galeno e as suas crias já tinham terminado

a refeição minguada e ido embora. A maior parte das pessoas da torre já tinha comido, e

assim dei por mim de volta aos meus antigos hábitos. Havia sempre comida na cozinha e

companhia no posto dos guardas, ao lado da cozinha. Ali, homens de armas iam e vinham a

todas as horas do dia e da noite; por causa disso, Tempero sempre mantinha um caldeirão

fervendo lentamente, acrescentando água, carne e legumes à medida que o nível baixava.

Também havia vinho, cerveja e queijo, e a companhia simples daqueles que guardavam a

torre. Esses tinham me aceitado como um dos seus desde o primeiro dia que eu tinha sido

deixado a cargo de Bronco. Portanto, preparei para mim mesmo uma refeição simples, longe

de ser tão escassa quanto Galeno teria me oferecido, mas também não tão grande e rica quanto

eu desejaria. Era um ensinamento de Bronco: alimentei-me como teria alimentado um animal

ferido.

Escutei casualmente as conversas em volta, concentrando-me na vida da torre como não

tinha feito durante meses. Fiquei surpreso com tudo o que não sabia por causa da minha total

imersão nos ensinamentos de Galeno. A noiva de Veracidade era o principal tema das

conversas. Havia as típicas piadas rudes dos soldados – que são esperadas a respeito desse

tipo de assunto –, bem como muita comiseração pela pouca sorte de Veracidade em ter a

futura esposa escolhida por Majestoso. Que a escolha seria baseada em alianças políticas,

isso nunca tinha sido colocado em questão: a mão de um príncipe não pode ser desperdiçada

em algo tão tolo quanto a própria vontade. Isso tinha provocado, em grande parte, o escândalo

em torno da escolha teimosa de Cavalaria por Paciência. Ela provinha de dentro do reino,

filha de um dos nossos nobres, e uma família já muito amiga da família real. Nenhuma

vantagem política tinha advindo desse casamento.

Mas Veracidade não seria desperdiçado dessa maneira. Especialmente com os Navios

Vermelhos nos ameaçando ao longo de toda a nossa esparsa linha costeira. Portanto, as

especulações corriam à solta. Quem seria a escolhida? Uma mulher das Ilhas Próximas, ao

norte no Mar Branco? As ilhas eram pouco mais do que pedaços rochosos dos ossos da terra

se erguendo no meio do mar, mas uma série de torres dispostas sobre elas poderia nos avisar

previamente sobre as incursões dos salteadores nas nossas águas. A sudoeste das nossas

fronteiras, além dos Ermos Chuvosos onde ninguém governava, havia a Costa das Especiarias.

Uma princesa dessas terras ofereceria poucas vantagens defensivas, mas alguns argumentavam

em favor dos ricos acordos de comércio que poderia trazer consigo. A dias de viagem rumo

ao sul e a leste no mar, havia muitas ilhas grandes onde cresciam árvores com que os nossos

construtores de barcos sonhavam. Poderiam ser achados ali um rei e uma filha, capazes de

trocar os ventos quentes e os frutos suaves por um castelo numa terra rochosa, fazendo

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