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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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– Você realmente pensa assim?

– Com certeza.

Eu me remexi um pouco, subitamente consciente do quão perto Moli estava de mim. Mexi,

mas não me afastei. No fundo da praia, Ferreirinho fez outra incursão em direção a um bando

de gaivotas. A língua dele ia pendurada quase até os joelhos, mas ele continuava correndo.

– Mas se as damas nobres fizerem essas coisas todas, arruinarão as mãos com o trabalho, e

o vento irá ressecar o cabelo delas e queimar seus rostos. Com certeza Veracidade não

merece uma mulher que se pareça com um marujo, não é?

– Claro que sim. Merece muito mais do que uma mulher que se pareça com uma carpa

vermelha e gorda, dentro de uma tigela.

Moli riu.

– Alguém que monte a cavalo ao seu lado, numa manhã em que ele leve Caçador para

galopar, ou alguém que olhe para a parte de um mapa que ele tenha acabado de fazer e que de

fato compreenda o excelente trabalho que é esse mapa. Esse é o tipo de mulher que

Veracidade merece.

– Nunca montei um cavalo – Moli objetou de repente. – E sei pouco de letras.

Olhei para ela com curiosidade, tentando perceber por que de um momento para o outro ela

parecia tão abatida.

– E qual é o problema? Você é suficientemente inteligente para aprender o que quer que

deseje aprender. Olhe para tudo o que você aprendeu sozinha sobre velas e ervas. Não me

diga que veio do seu pai. Às vezes, quando passo na loja, seu cabelo e seu vestido estão

cheirando a ervas frescas, e eu sei que você tem experimentado novos perfumes para as velas.

Se quisesse ler ou escrever, conseguiria aprender facilmente. Quanto a montar um cavalo,

seria instintivo para você. Você tem equilíbrio e força... olhe como sobe as rochas sobre as

falésias. E os animais gostam de você. Você arrebatou o coração do Ferreirinho...

– Aff! – ela me deu um empurrão de leve com o ombro. – Você fala como se algum nobre

fosse vir da torre cavalgando para me levar com ele.

Pensei em Augusto e nas suas maneiras enfadonhas, ou Majestoso oferecendo a ela um dos

seus sorrisos afetados.

– Que Eda te livre deles. Você seria desperdiçada. Não teriam inteligência vivaz o

suficiente para te compreender, ou o coração para te apreciar.

Moli olhou para as suas mãos gastas pelo trabalho.

– Quem teria, então? – ela perguntou delicadamente.

Garotos são todos bobos. A conversa tinha crescido e se entrelaçava à nossa volta, as

palavras vindo tão naturalmente à minha boca como o ar que eu respirava. Não tive nenhuma

intenção de bajulação, nem de um galanteio sutil. O sol começava a mergulhar nas águas,

sentamo-nos muito perto um do outro, e a praia diante de nós era como o mundo aos nossos

pés. Se tivesse dito naquele momento “eu teria”, penso que o coração dela teria caído em

minhas mãos desajeitadas como o fruto maduro de uma árvore. Penso que teria me beijado e

se guardado para mim por vontade própria. Mas eu não conseguia conceber a imensidão do

que subitamente sabia ter começado a sentir por ela. E isso afastou a verdade simples dos

meus lábios, e fiquei sentado feito um bobo. Um instante depois, Ferreirinho chegou, molhado

e cheio de areia, atirando-se em cima de nós, de tal forma que Moli se colocou de pé num

salto para salvar sua saia, e a oportunidade se perdeu para sempre, dispersada como espuma

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