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– Não resta muita luz do dia – eu disse, persuasivo. – Você sempre consegue fazer velas à
noite. E os seus clientes vão voltar amanhã se encontrarem a loja fechada hoje.
Ela inclinou a cabeça e pareceu refletir. De repente, colocou de lado a tira porosa de fazer
pavios.
– Você tem razão, sabe? O ar fresco vai me fazer bem.
E pegou a capa com um entusiasmo que deliciou Ferreirinho e me surpreendeu. Fechamos a
loja e partimos.
Moli começou a andar no seu passo apressado normal. Ferreirinho ia aos saltos em torno
dela, deliciado. Conversamos superficialmente. O vento enrubescia as suas bochechas, e os
olhos dela pareciam mais brilhantes no frio. Achei que ela olhava para mim com mais
frequência e de um jeito mais pensativo do que de costume.
A cidade estava quieta, e o mercado praticamente abandonado. Fomos para a praia e
andamos tranquilamente por onde tínhamos corrido e gritado poucos anos antes. Ela me
perguntou se eu tinha aprendido a acender uma lanterna antes de descer os degraus à noite, o
que me deixou sem entender, até que me lembrei de ter justificado as minhas lesões com uma
queda ao descer uma escada no escuro. Perguntou-me se o professor da escola e o mestre dos
cavalos ainda estavam zangados um com o outro, e foi aí que eu percebi que o desafio entre
Bronco e Galeno nas Pedras Testemunhais já tinha se tornado uma lenda local. Assegurei-lhe
que a paz tinha sido restabelecida. Passamos um tempo colhendo um certo tipo de alga que ela
queria usar para aromatizar a sopa daquela noite. Então, como eu estava com falta de ar, nós
nos sentamos entre algumas rochas, ao abrigo do vento, e observamos Ferreirinho em várias
tentativas de expulsar da praia todas as gaivotas.
– Então, ouvi dizer que o Príncipe Veracidade vai se casar – começou ela.
– O quê? – perguntei, espantado.
Ela riu.
– Novato, nunca conheci ninguém tão imune a fofocas quanto você. Como pode viver lá em
cima na torre e não saber nada do que estão comentando na cidade? Veracidade concordou em
arranjar uma noiva, para assegurar a sua sucessão. Mas o que se diz pela cidade é que está
ocupado demais para cortejar uma donzela pessoalmente, então Majestoso vai achar uma
noiva para ele.
– Ah, não.
O meu desapontamento era honesto. Estava imaginando que grande furada seria Veracidade
casado com uma das mulheres feitas de açúcar de Majestoso. Sempre que havia um festival
qualquer na torre, fosse o Limiar da Primavera ou o Coração do Inverno ou o Dia da Colheita,
lá vinham elas, de Calcede, Vara ou Vigas, em carruagens, palafréns vistosamente enfeitados
ou liteiras. Usavam vestidos como asas de borboleta, comiam de um jeito tão afetado quanto
pardais e pareciam esvoaçar de um lado para o outro. Empoleiravam-se sempre perto de
Majestoso, que se sentava no meio delas, envolto nos próprios tons de seda e veludo,
enfeitando-se enquanto as vozes musicais delas tilintavam em volta dele e os leques e as
rendas sacudiam nos seus dedos. “Caçadoras de Príncipes”, é como eram chamadas, mulheres
nobres que se mostravam como produtos na vitrine de uma loja, na esperança de casarem com
um dos homens da realeza. O comportamento delas não era exatamente impróprio, mas aos
meus olhos pareciam desesperadas; Majestoso, cruel, sorria primeiro para uma e dançava a
noite toda com outra, e no dia seguinte levantava-se para tomar um café da manhã tardio e