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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Ele não nos ofereceu nada de novo nesse dia, apenas repassou o que já tínhamos aprendido.

E a lição acabou cedo, antes mesmo de o sol começar a se pôr.

– Comportaram-se bem – disse numa voz fraca. – Mereceram essas horas livres, pois estou

contente de que tenham continuado a estudar na minha ausência.

Antes de nos mandar embora, chamou cada um de nós diante dele, para um breve toque do

Talento. Os outros partiram relutantemente, muitos espiando para trás, curiosos sobre como

ele lidaria comigo. À medida que o número de colegas se reduzia, fui me preparando para um

confronto solitário.

Mas mesmo isso foi um desapontamento. Fui chamado até ele, e eu fui, tão silencioso e

aparentemente respeitoso quanto os outros. Coloquei-me diante dele como eles tinham feito, e

ele executou alguns breves movimentos de mãos em frente ao meu rosto e sobre a minha

cabeça. Então disse numa voz fria:

– Você se protege bem demais. Precisa aprender a baixar a guarda dos seus pensamentos,

se quiser ser capaz de transmitir ou receber os pensamentos de outras pessoas. Vá.

E eu parti, como os outros tinham partido, mas me sentindo triste. Não tinha certeza de que

ele tivesse realmente feito algum esforço para usar o Talento em mim. Não tinha sentido

realmente o toque. Desci as escadas, dolorido e amargurado, tentando compreender por que eu

estava me esforçando.

Voltei ao quarto e então fui para o estábulo. Escovei Fuligem apressadamente enquanto

Ferreirinho observava. Ainda assim me sentia exausto e insatisfeito. Sabia que devia

descansar, que me arrependeria se não fizesse isso. Andar pelas pedras? Ferreirinho sugeriu e

eu concordei em levá-lo ao povoado. Saltitou e farejou o caminho, andando em círculos à

minha volta, enquanto descíamos da torre à cidade. Era uma tarde inquieta depois da manhã

calma; uma tempestade se anunciava no horizonte. Mas o vento era quente, fora de estação, e

senti o ar fresco clareando a minha mente; o ritmo firme do passeio me acalmou e alongou

meus músculos, que estavam pesados e doloridos por causa dos exercícios de Galeno. O

constante tagarelar de Ferreirinho, carregado de impressões sensoriais, alicerçou-me com

muita firmeza no mundo imediato, não me deixando remoer as minhas frustrações.

Disse a mim mesmo que foi Ferreirinho quem nos levou direto para a loja de Moli. Como

todos os cachorrinhos, tinha voltado aonde o tinham recebido bem antes. O pai de Moli tinha

passado o dia na cama, e a loja estava relativamente calma. Apenas um freguês, que estava

falando com Moli. Ela o apresentou para mim. Chamava-se Jadão. Era o imediato de algum

navio mercante da Baía das Focas. Tinha quase vinte anos de idade e falava comigo como se

eu tivesse dez, ignorando-me e sorrindo para Moli o tempo todo. Estava cheio de relatos

sobre os Navios Vermelhos e tempestades no mar. Tinha um brinco com uma pedra vermelha

numa das orelhas e uma barba recente contornando o seu rosto. Passou muito tempo

escolhendo velas e uma nova lamparina de metal, mas finalmente foi embora.

– Feche a loja por um tempinho – instiguei Moli. – Vamos à praia. O vento está tão

agradável hoje.

Ela abanou a cabeça com tristeza.

– Estou atrasada com o trabalho. Tenho de fazer velas durante a tarde toda, se não tiver

fregueses. E, se tiver fregueses, preciso estar aqui.

Senti-me injustamente desapontado. Sondei sua mente e descobri o quanto ela efetivamente

desejava ir.

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