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debaixo deles. O cavalo de Bronco estava cansado, e os cascos escorregavam nas pedras,
quase sempre sujas, da calçada das ruas da cidade. Eu me agarrava com força ao cinto de
Bronco, e estava cansado e dolorido demais para sequer me queixar. Ergui a cabeça uma vez
para contemplar as torres e paredes altas e cinzentas do forte que se erguia diante de nós.
Pareceu-me frio e severo, mesmo sob o calor da brisa marítima. Encostei a minha testa nas
costas dele e senti-me enjoado pelo cheiro de sal e iodo daquela imensidão de água. E assim
cheguei a Torre do Cervo.
Os aposentos de Bronco ficavam sobre o estábulo, não muito longe do pátio. Foi para lá
que ele me levou, juntamente com os cães e o falcão de Cavalaria. Tratou do falcão primeiro,
pois estava lamentavelmente ensopado, desgrenhado e sujo da viagem. Os cães estavam
transbordando felicidade por chegarem em casa e pareciam insuflados de uma energia sem
limites que era muito irritante para alguém tão cansado quanto eu. Narigudo empurrou-me
meia dúzia de vezes antes que eu conseguisse transmitir à sua cabeça dura de cão que eu
estava cansado e meio enjoado e sem disposição para brincadeiras. Respondeu-me como
qualquer cãozinho faria, procurando os antigos companheiros de ninhada e lançando-se
imediatamente numa luta semisséria com um deles, a qual foi subitamente interrompida por um
grito de Bronco. Ele era o homem de Cavalaria, mas, quando estava em Torre do Cervo, era
também o senhor dos cães, dos falcões e dos cavalos.
Tendo tratado dos seus próprios animais, caminhou pelas baias, verificando tudo o que
havia sido feito, ou deixado por fazer, durante a sua ausência. Como num passe de mágica,
surgiram rapazes do estábulo, criados e falcoeiros para defenderem suas incumbências de
eventuais críticas. Corri atrás dele por quanto tempo pude. Foi apenas quando eu finalmente
desisti e me atirei, cansado, em cima de uma pilha de palha, que ele pareceu se dar conta de
que eu estava ali. Um olhar de irritação seguido de um olhar de enorme cansaço percorreu seu
rosto.
– Aqui, você, Garrano. Leve o jovem Fitz à cozinha, assegure-se de que ele se alimente, e
depois o traga de volta aos meus aposentos.
Garrano era um rapaz dos cães, pequeno e escuro, com cerca de dez anos de idade, que
tinha acabado de ser elogiado pela saúde de uma ninhada que tinha sido parida na ausência de
Bronco. Momentos antes, tinha saboreado a aprovação de Bronco, mas ao receber essas novas
ordens, o seu sorriso se desfez e ele lançou para mim um olhar indefinido. Nós nos encaramos
enquanto Bronco se dirigia às baias com o seu séquito de tratadores nervosos. Então o rapaz
encolheu os ombros e curvou-se para me encarar.
– Então você está com fome, não é, Fitz? Vamos procurar alguma coisa para você beliscar?
– perguntou convidativo, exatamente no mesmo tom que tinha usado antes para persuadir os
cachorrinhos a irem para um lugar onde Bronco pudesse vê-los. Eu concordei, aliviado por
ele não esperar de mim mais que de um cãozinho, e o segui.
Ele olhava para trás o tempo todo para ver se eu continuava a acompanhá-lo. Assim que
estávamos fora do estábulo, Narigudo veio saltitante para juntar-se a mim. A evidente afeição
do cachorro por mim fez com que eu subisse no conceito de Garrano, que continuou falando
para nós dois com frases curtas de encorajamento, dizendo-nos: há comida logo à nossa frente,
venha, ande, venha, não, não vá para lá atrás do gato, ande ali, venha, bons meninos.
As baias estavam lotadas com os homens de Veracidade acomodando os cavalos e
equipamentos, e Bronco apontava tudo o que tinham feito na sua ausência e que não atendia às