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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Foi a primeira vez que vi o Bobo parecer surpreso.

– Por que não?

– É inútil. Não vou conseguir. Simplesmente não tenho aptidão e estou cansado de bater a

cabeça na parede.

Os olhos do Bobo se abriram mais.

– Pensei que você estava indo bem, antes de...

Foi a minha vez de me surpreender.

– O quê? Por que é que você pensa que ele zomba de mim e me bate? Como recompensa

pelo sucesso? Não. Não fui capaz de compreender o que é o Talento. Todos os outros já me

ultrapassaram. Por que haveria eu de voltar? Para que Galeno pudesse provar outra vez o

quão certo sempre esteve?

– Alguma coisa – disse o Bobo cuidadosamente – não está certa. – Ponderou por um

momento. – Antes, pedi que você desistisse das lições. E você se recusou. Você se lembra

disso?

Tentei me lembrar.

– Sou teimoso, às vezes – admiti.

– E se te pedisse agora que continuasse? Que subisse ao topo da torre e continuasse a

tentar?

– E por que você mudou de ideia?

– Porque o que tentei evitar que acontecesse, aconteceu, e você sobreviveu. Portanto,

procuro... – suas palavras sumiram. – É como você diz. Por que afinal eu devo falar, se não

sei falar claramente?

– Se te disse isso, desculpe-me. Não é coisa que se diga a um amigo. Não me lembro disso.

Ele esboçou um sorriso.

– Se não se lembra, eu também não me lembrarei – estendeu o braço e pegou as minhas

mãos com a sua. O toque era estranhamente frio e provocou um arrepio por todo o meu corpo.

– Continuaria se eu te pedisse? Como amigo?

A palavra soou estranha, vinda dos lábios dele. Pronunciou-a sem piada, cuidadosamente,

como se dizê-la muito alto destruísse o seu significado. Os olhos descorados dele encaravam

os meus. Descobri que não podia dizer não. Portanto, concordei.

Mesmo assim, levantei-me com relutância. Ele me observou com um interesse impassível

enquanto eu endireitava as roupas com que eu tinha dormido, passava água na cara e comia o

pão que ele tinha levado para mim.

– Não quero ir – disse-lhe enquanto terminava o primeiro pão e pegava o segundo. – Não

vejo o que possa conseguir com isso.

– Não percebo por que é que ele se preocupa com você – concordou o Bobo. O cinismo

habitual dele estava de volta.

– Galeno? Ele tem de... o rei...

– Bronco.

– Ele simplesmente gosta de me dar ordens – reclamei, mas mesmo eu percebi como a frase

tinha soado infantil.

O Bobo abanou a cabeça.

– Você não tem a mínima ideia, não é?

– De quê?

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