27.02.2021 Views

O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Bronco falava cuidadosamente, como se explicasse a verdade a um idiota, com os seus

movimentos muito precisos ao pousar a xícara outra vez na mesa.

– Não era para me ensinar... não creio que ele ache que eu possa ser ensinado. Foi para

mostrar aos outros o que aconteceria se falhassem.

– Muito pouco conhecimento valioso é ensinado pelo medo – disse Bronco, obstinado. E

com mais entusiasmo: – É um mau professor aquele que tenta instruir com golpes e ameaças.

Imagine domesticar um cavalo dessa maneira. Ou um cão. Mesmo o cão mais cabeça dura

aprende melhor com uma mão aberta do que com um pau.

– Você já me bateu, ao tentar me ensinar algumas coisas.

– Sim. Sim. Já fiz isso. Mas para dar uma sacudida, ou avisar, ou acordar. Não para ferir.

Nunca para partir um osso ou cegar um olho ou incapacitar uma mão. Nunca. Nunca diga a

ninguém que bati desse jeito em você, ou em qualquer criatura deixada a meu cargo, porque

não é verdade.

Ele estava indignado por eu ter até mesmo sugerido tal coisa.

– Não. Nisso você tem razão – tentei pensar como eu poderia fazer Bronco perceber por

que eu tinha sido punido. – Mas é diferente, Bronco. É um tipo diferente de aprendizagem, um

tipo diferente de ensinamento.

Sentia-me compelido a defender a justiça de Galeno. Tentei lhe explicar.

– Eu mereci isso, Bronco. O erro não foi do método de ensino. Eu falhei. Eu tentei. Eu tentei

mesmo. Mas, como Galeno, agora acredito que há uma razão para o Talento não ser ensinado

a bastardos. Há em mim uma mácula, uma fraqueza fatal.

– Isso é conversa de merda.

– Não. Pense nisso, Bronco. Se cruzasse uma égua de sangue ruim com um belo garanhão, o

potro que resultaria seria tão capaz de ter as fraquezas da mãe como a elegância do pai.

O silêncio que se seguiu foi longo. E então:

– Duvido muito que o seu pai tivesse se deitado com uma mulher que fosse de sangue ruim.

Sem alguma fineza, algum sinal de espirituosidade ou inteligência, ele não faria isso. Não

conseguiria.

– Ouvi dizer que foi colocado em transe por uma bruxa das montanhas – repeti pela

primeira vez o que tinha ouvido ser murmurado com frequência.

– Cavalaria não era homem para cair em feitiços. E o filho dele não é um bebê chorão, um

idiota, um pobre de espírito que fica caído num canto gemendo e dizendo que mereceu ser

espancado.

Ele chegou mais perto de mim e se inclinou, tocando-me gentilmente um pouco abaixo da

têmpora. Uma descarga de dor fez minha consciência oscilar.

– Veja quão perto você esteve de perder um olho para esse “método de ensino”.

Estava ficando com raiva e decidi manter a boca fechada. Bronco deu uma volta rápida

pelo quarto e virou a cara para mim.

– Aquele cãozinho. É da cadela de Paciência, não é?

– Sim.

– Mas você não... ah, Fitz, diga-me, por favor, que não foi por ter usado a Manha que isso

aconteceu com você. Se ele fez o que fez com você por causa disso, não há nada que eu possa

dizer a ninguém, ou nenhum par de olhos que eu ainda possa encarar nesta torre ou no reino

inteiro.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!