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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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– Por quê? – perguntei.

– Porque – começou, e então parou, frustrado. – Não sei. Muitas coisas convergem. Talvez,

se eu soltar um dos fios, o nó não se forme.

Senti-me subitamente cansado, e o entusiasmo anterior do meu triunfo desapareceu diante

daqueles avisos sombrios. A minha irritabilidade tomou conta de mim e eu explodi:

– Se não consegue falar claramente, por que é que afinal você fala?

Ficou tão silencioso como se eu tivesse batido nele.

– Isso é outra coisa que não sei – disse por fim. Levantou-se para sair.

– Bobo – comecei.

– Sim. É isso que eu sou – disse e partiu.

E assim persisti, tornando-me mais forte. Comecei a ficar impaciente com o lento progresso

da nossa instrução. Repetíamos os mesmos exercícios todos os dias; gradualmente, os outros

começaram a dominar o que a mim parecia algo tão natural. Como eles podiam ter sido tão

fechados ao resto do mundo?, eu me perguntava. Como podia ser tão difícil para eles abrir a

mente ao Talento de Galeno? No meu caso, a dificuldade não era abrir, mas sim manter

fechadas as coisas que não desejava compartilhar. Com frequência, quando ele

negligentemente me tocava com o Talento, eu sentia um tentáculo buscando e movendo-se

furtivo em direção da minha mente, mas eu o evitava.

– Vocês estão prontos – anunciou ele num dia gelado.

Era de tarde, mas as estrelas mais luminosas já se mostravam na escuridão azul do céu. Eu

sentia falta das nuvens que no dia anterior tinham nevado sobre nós, mas que pelo menos

tinham mantido este frio mais intenso na baía. Dobrei os dedos dos pés dentro dos sapatos de

couro que Galeno tinha permitido que usássemos, tentando aquecê-los para senti-los outra vez.

– Antes eu os tinha tocado com o Talento, para que vocês se habituassem a ele. Agora, hoje,

tentaremos um compartilhamento completo. Vocês irão sondar a minha mente quando eu

sondar a mente de vocês. Mas tenham cuidado! A maior parte de vocês conseguiu resistir às

distrações de um toque do Talento. Mas o poder que sentiram foi o mais suave dos toques.

Hoje será mais forte. Resistam a ele, mas se mantenham abertos ao Talento.

Começou o seu lento giro entre nós. Esperei, nervoso, mas sem medo. Tinha aguardado por

essa tentativa. Estava pronto.

Alguns claramente falharam, e foram repreendidos pela preguiça e estupidez. Augusto foi

elogiado. Serena foi esbofeteada por sondar a mente dele com muita avidez. Então ele se

aproximou de mim.

Eu me preparei para uma luta. Senti o toque da sua mente na minha e lhe ofereci um

cauteloso pensamento de contato. Assim?

Sim, bastardo. Assim.

Por um momento, estávamos em equilíbrio, como duas crianças numa gangorra. Senti-o

tornar o contato mais firme. Então, de repente, atirou-se com força contra mim. Senti

exatamente como se o ar tivesse sido roubado dos meus pulmões por um golpe no estômago,

mas de uma forma mais mental do que física. Em vez de ficar incapaz de recuperar o fôlego,

fiquei incapaz de dominar os meus pensamentos. Ele entrou na minha mente invadindo minha

privacidade e eu estava impotente. Ele tinha vencido e ele sabia disso. Mas, nesse seu

momento de triunfo descuidado, encontrei uma brecha nas suas defesas. Tentei agarrá-lo,

tentei capturar a mente dele como ele tinha capturado a minha. Agarrei-o e apertei-o, e num

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