O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb
– Posso tomar conta do cãozinho para você – disse-me secamente. – Mas não posso tomarconta de você. Use a cabeça, rapaz. O que pode aprender com o que ele está fazendo comvocê?Encolhi os ombros e estremeci.– É apenas para nos fortalecer. Não creio que continue muito tempo assim antes que comecea nos ensinar. Posso aguentar tudo isso. – E então: – Espere – disse, enquanto ele davapedaços de carne da cesta para Ferreirinho comer. – Como é que você sabe o que Galeno estáfazendo conosco?– Ah, isso seria contar segredos – disse com indiferença. – E eu não posso fazer isso.Contar segredos.Deu o resto da cesta para Ferreirinho, encheu sua tigela de água e levantou-se.– Darei de comer ao cãozinho – disse-me. – Vou até tentar levá-lo lá fora, para passeardurante o dia. Mas não limparei os seus dejetos. – Parou à porta. – É aí que ponho o meulimite. E você, é melhor que decida onde é que você põe o seu. E depressa. Bem depressa. Operigo é maior do que você pensa.Então foi embora, levando a vela e os seus avisos consigo. Deitei e adormeci com os sonsde Ferreirinho mordiscando um osso e dando rosnadas de filhote para si mesmo.
CAPÍTULO QUINZEAs Pedras TestemunhaisO Talento é, na sua forma mais simples, o estabelecimento de uma ponte entre ospensamentos de duas pessoas. Há muitas maneiras de empregá-lo. Durante uma batalha,por exemplo, um comandante pode enviar uma simples informação e comandar diretamenteos seus oficiais, se estes tiverem sido treinados para recebê-la. Um indivíduo muitoTalentoso pode usar sua habilidade para influenciar até mesmo mentes que não tenhamsido treinadas ou as mentes dos seus inimigos, inspirando neles medo, confusão ou dúvida.Homens tão dotados são raros. Mas, se incrivelmente agraciado com o Talento, um homempode aspirar a falar diretamente com os Antigos, estes que são inferiores apenas aospróprios deuses. Poucos ousaram fazer isso alguma vez, e, entre os que o fizeram, menosainda foram os que obtiveram o que pediram. Pois dizem que é possível fazer perguntas aosAntigos, mas a resposta que darão não é necessariamente à pergunta que foi feita, mastalvez à pergunta que deveria ter sido feita. E essa resposta pode ser de tal ordem que umhomem não seja capaz de ouvi-la e viver.Porque quando se fala com os Antigos, a doçura do Talento é mais forte e mais perigosa.E é disso que qualquer praticante do Talento, fraco ou forte, deve sempre se proteger. Pois,no Talento, o seu utilizador experimenta uma clareza de vida, uma elevação do ser quepode fazer um homem se esquecer de inspirar o próximo fôlego. Esse sentimento é atrativo,mesmo nas utilizações mais normais do Talento, e viciante para qualquer um a quem falteuma força de vontade treinada, mas a intensidade da exultação experimentada em umaconversa com os Antigos é uma coisa para a qual não existe termo de comparação. Tanto ossentidos como o juízo podem ser para sempre erradicados de um homem que use o Talentopara falar com um Antigo. Esse homem morre delirante, mas também é verdade que morredelirante de alegria.O Bobo tinha razão. Eu não fazia ideia do perigo que enfrentava. Não tenho vontade de entrarem detalhes em relação às semanas que se seguiram. Basta dizer que, a cada dia, Galeno nostinha mais sob a sua influência, e também se tornava mais cruel e manipulador. Alguns dospupilos desistiram depressa. Graça foi um desses casos. Parou de vir depois do quarto dia. Eua vi apenas uma vez depois disso, arrastando-se pela torre com uma expressão no rosto queera, ao mesmo tempo, desolada e envergonhada. Descobri mais tarde que Serena e as outrasmulheres se afastaram dela assim que desistiu do treino, e que, depois disso, quando falavamdela, não era como se tivesse falhado num exame, mas como se tivesse cometido um ato baixoe repugnante pelo qual nunca poderia ser perdoada. Não sei para onde foi, apenas sei quedeixou Torre do Cervo e nunca mais voltou.Da mesma forma que o oceano dispõe as pedrinhas da areia numa praia e as estratifica namargem da maré alta, os golpes e carícias de Galeno separaram os seus pupilos. Inicialmente,todos nos esforçamos para ser os melhores. Não porque gostássemos dele ou o admirássemos.
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CAPÍTULO QUINZE
As Pedras Testemunhais
O Talento é, na sua forma mais simples, o estabelecimento de uma ponte entre os
pensamentos de duas pessoas. Há muitas maneiras de empregá-lo. Durante uma batalha,
por exemplo, um comandante pode enviar uma simples informação e comandar diretamente
os seus oficiais, se estes tiverem sido treinados para recebê-la. Um indivíduo muito
Talentoso pode usar sua habilidade para influenciar até mesmo mentes que não tenham
sido treinadas ou as mentes dos seus inimigos, inspirando neles medo, confusão ou dúvida.
Homens tão dotados são raros. Mas, se incrivelmente agraciado com o Talento, um homem
pode aspirar a falar diretamente com os Antigos, estes que são inferiores apenas aos
próprios deuses. Poucos ousaram fazer isso alguma vez, e, entre os que o fizeram, menos
ainda foram os que obtiveram o que pediram. Pois dizem que é possível fazer perguntas aos
Antigos, mas a resposta que darão não é necessariamente à pergunta que foi feita, mas
talvez à pergunta que deveria ter sido feita. E essa resposta pode ser de tal ordem que um
homem não seja capaz de ouvi-la e viver.
Porque quando se fala com os Antigos, a doçura do Talento é mais forte e mais perigosa.
E é disso que qualquer praticante do Talento, fraco ou forte, deve sempre se proteger. Pois,
no Talento, o seu utilizador experimenta uma clareza de vida, uma elevação do ser que
pode fazer um homem se esquecer de inspirar o próximo fôlego. Esse sentimento é atrativo,
mesmo nas utilizações mais normais do Talento, e viciante para qualquer um a quem falte
uma força de vontade treinada, mas a intensidade da exultação experimentada em uma
conversa com os Antigos é uma coisa para a qual não existe termo de comparação. Tanto os
sentidos como o juízo podem ser para sempre erradicados de um homem que use o Talento
para falar com um Antigo. Esse homem morre delirante, mas também é verdade que morre
delirante de alegria.
O Bobo tinha razão. Eu não fazia ideia do perigo que enfrentava. Não tenho vontade de entrar
em detalhes em relação às semanas que se seguiram. Basta dizer que, a cada dia, Galeno nos
tinha mais sob a sua influência, e também se tornava mais cruel e manipulador. Alguns dos
pupilos desistiram depressa. Graça foi um desses casos. Parou de vir depois do quarto dia. Eu
a vi apenas uma vez depois disso, arrastando-se pela torre com uma expressão no rosto que
era, ao mesmo tempo, desolada e envergonhada. Descobri mais tarde que Serena e as outras
mulheres se afastaram dela assim que desistiu do treino, e que, depois disso, quando falavam
dela, não era como se tivesse falhado num exame, mas como se tivesse cometido um ato baixo
e repugnante pelo qual nunca poderia ser perdoada. Não sei para onde foi, apenas sei que
deixou Torre do Cervo e nunca mais voltou.
Da mesma forma que o oceano dispõe as pedrinhas da areia numa praia e as estratifica na
margem da maré alta, os golpes e carícias de Galeno separaram os seus pupilos. Inicialmente,
todos nos esforçamos para ser os melhores. Não porque gostássemos dele ou o admirássemos.