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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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atrás dos rapazes e afastadas para o lado direito.

– Não vou tolerar distrações ou comportamentos que perturbem o trabalho. Vocês estão

aqui para aprender, não para brincar – ele nos avisou.

Então ele nos fez aumentar as distâncias entre nós e, para confirmar que não podíamos nos

tocar nem com a ponta de um dedo, fez com que esticássemos os braços em todas as direções.

Por causa disso, fiquei à espera de que se seguissem alguns exercícios físicos, mas, em vez

disso, mandou-nos ficar em pé e quietos, com as mãos pendentes ao lado do corpo, prestando

atenção nele. E assim, enquanto permanecíamos de pé no topo da torre fria, fez um discurso.

– Há dezessete anos que sou o Mestre do Talento nesta torre. Até hoje, minhas lições foram

dadas a pequenos grupos, discretamente. Aqueles que falharam em mostrar potencial foram

recusados em silêncio. Durante esse tempo, os Seis Ducados não tiveram necessidade de que

mais do que um punhado fosse treinado. Treinei apenas os mais hábeis, sem perder tempo com

os que não tinham nem capacidade nem disciplina. E, durante os últimos quinze anos, não

iniciei ninguém no Talento.

– Mas estamos diante de tempos de maldade. Os Ilhéus pilham as nossas costas e forjam o

nosso povo. O Rei Sagaz e o Príncipe Veracidade usam o Talento para nos proteger. Grandes

são os seus esforços e muitos os seus sucessos, embora o povo nem sequer imagine o que eles

fazem. Asseguro a vocês que, contra mentes treinadas por mim, os Ilhéus têm poucas chances.

Podem ter ganhado algumas vitórias magras, pegando-nos desprevenidos, mas as forças que eu

criei para se oporem a eles irão triunfar!

Os olhos pálidos se incendiaram, e ele levantou as mãos ao céu enquanto falava. Manteve

um longo silêncio, olhando para o alto, e os braços estenderam-se por cima da cabeça, como

se absorvesse energia do próprio céu. E então deixou os braços caírem lentamente.

– Isso eu sei – continuou numa voz mais calma. – Isso eu sei. As forças que criei irão

triunfar. Mas o nosso rei, que todos os deuses o honrem e abençoem, duvida de mim. E

enquanto ele for o meu rei, cumprirei a sua vontade. E ele deseja que procure entre vocês, os

de sangue menos nobre, e veja se existe alguém com a habilidade e a vontade, a pureza de

propósito e o rigor da alma, necessários para que seja treinado no Talento. E isso eu farei,

pois assim o meu rei ordenou. As lendas dizem que antigamente havia muitos que eram

treinados no Talento, que trabalhavam ao lado dos reis para proteger a nossa terra. Talvez

tenha sido assim; ou talvez as antigas lendas exagerem. Em todo o caso, o meu rei me ordenou

que tentasse criar um tipo de excedente de Talentosos, e tentarei cumprir essa tarefa.

Ignorou totalmente as cinco mulheres do grupo. Nem uma única vez os seus olhos se

viraram para elas. A exclusão foi tão óbvia que me fez pensar de que maneira elas o teriam

ofendido. Conhecia um pouco Serena, pois ela também era uma pupila competente de

Penacarriço. Podia quase sentir o calor do seu desagrado. Na fila atrás de mim, um dos

rapazes se mexeu. Num relâmpago, Galeno saltou para a frente dele.

– Estamos aborrecidos, não é? Impacientes com a conversa de um velho?

– Apenas uma cãibra na perna, senhor – o rapaz retorquiu tolamente.

Galeno o esbofeteou com as costas da mão, fazendo a cabeça do rapaz balançar.

– Fique calado e pare quieto. Ou vá embora. Para mim dá na mesma. Já é óbvio que falta a

você a resistência necessária para o uso do Talento. Mas o rei achou que você é merecedor de

estar aqui, por isso tentarei te ensinar.

Estremeci por dentro. Porque quando Galeno falou com o rapaz, foi a mim que ele encarou.

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