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várias idades. Augusto era provavelmente o mais jovem, dois anos mais novo que eu. Serena,
uma mulher de vinte e poucos anos, era provavelmente a mais velha. Era um grupo
estranhamente tranquilo. Alguns se reuniram, falando em voz baixa, mas a maior parte ficou
andando por ali, explorando os jardins vazios ou olhando as estátuas.
Então Galeno chegou.
Deixou a porta que dava para as escadas bater atrás dele. Vários deram um salto. Ficou nos
observando e nós o olhamos em silêncio.
Há uma coisa que tenho notado em homens muito magros. Alguns, como Breu, parecem tão
preocupados com suas vidas que, ou se esquecem de comer, ou queimam toda e qualquer
substância nutritiva que consomem nos fogos da apaixonada fascinação pela vida. Mas há
outro tipo, o dos que se movem pelo mundo como cadáveres, de rosto chupado, ossos
protuberantes, e uma pessoa pode sentir que ele tem uma opinião tão negativa do mundo
inteiro que lamenta cada pedacinho desse mundo que leva para dentro de si. Naquele
momento, eu teria apostado que Galeno nunca apreciou realmente uma garfada de comida ou
um gole de bebida em toda a sua vida.
A sua indumentária me deixava perplexo. Era ricamente enfeitada, com pele no colarinho e
pescoço, a veste era adornada de pedras de âmbar tão grandes que o teriam protegido contra
uma espada. Mas os tecidos ricos ficavam apertados para ele, as roupas tão estritamente
costuradas para servir nele que uma pessoa se perguntaria se não teria faltado ao alfaiate
tecido suficiente para terminar o traje. Numa época em que mangas amplas com tiras coloridas
eram a marca de um homem rico, ele vestia uma camisa tão apertada quanto a pele de um gato.
As botas eram altas e ajustadas às panturrilhas, e trazia consigo um pequeno açoite, como se
chegasse de uma cavalgada. Suas roupas pareciam desconfortáveis e, combinadas com sua
magreza, davam-lhe uma impressão de avareza.
Seus olhos pálidos varriam friamente o Jardim da Rainha. Observou-nos por alguns
instantes e imediatamente nos achou desprovidos de quaisquer virtudes. Expirou pelo seu
nariz de falcão, como um homem faz ao se preparar para uma tarefa desagradável.
– Limpem uma área – ele nos instruiu. – Empurrem o lixo todo para o lado. Empilhem tudo
aqui, contra a parede. Depressa. Não tenho paciência para preguiçosos.
E, assim, as últimas fileiras do jardim foram destruídas. Os arranjos de vasos e canteiros
que eram sombras dos passeios de antigamente foram varridos. Os vasos foram movidos para
um lado, as adoráveis pequenas estátuas empilhadas em cima deles. Galeno falou apenas uma
vez comigo.
– Depressa, bastardo – ordenou-me, quando eu me esforçava para mover um vaso pesado
cheio de terra, e bateu nos meus ombros com o açoite. Não foi um golpe muito forte, mais uma
pancada, mas me pareceu um ato tão deliberado que interrompi todos os meus esforços e olhei
para ele.
– Não me ouviu? – perguntou.
Fiz que sim com a cabeça e continuei a mover o vaso. Do canto do olho, vi nele uma
expressão estranha de contentamento. O golpe, senti, tinha sido um teste, mas não sabia se
tinha sido bem-sucedido ou se tinha falhado.
O topo da torre tornou-se um espaço desnudado, onde apenas as linhas verdes de musgo e
os antigos sulcos na terra indicavam a existência passada do jardim. Ele nos mandou formar
duas filas. E nos organizou por idade e tamanho, separando-nos por sexo, pondo as moças