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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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feridas, e tinha arranhões no rosto e no pescoço. Mas não eram arranhões do tipo que uma

mulher teria feito nele, garoto. Eram marcas de garras, como se um falcão o tivesse atacado.

– E você não disse nada? – perguntei, incrédulo.

Soltou uma gargalhada amarga.

– Outra pessoa falou antes que eu pudesse. Galeno foi acusado pelo primo da moça, que por

acaso trabalhava aqui no estábulo. Galeno não negou. Foram às Pedras Testemunhais e

lutaram um contra o outro pela justiça de El, que ali sempre persevera. Mais alta do que a

justiça dos reis é a resposta a uma questão colocada, e ninguém pode contestá-la. O rapaz

morreu. Todo mundo disse que foi a justiça de El, que o rapaz fez uma falsa acusação contra

Galeno. Disseram isso a Galeno, que respondeu que a justiça de El foi a moça ter morrido

antes de procriar, e o seu primo corrompido também.

Bronco se calou. Fiquei enjoado com o que ele tinha me dito, e um medo gélido irrompeu

dentro de mim. Uma questão decidida nas Pedras Testemunhais não pode ser levantada outra

vez. Era superior à lei, era a própria vontade dos deuses. Portanto, eu seria ensinado por um

assassino, um homem que tentaria me matar se suspeitasse que eu tinha a Manha.

– Sim – disse Bronco como se eu tivesse falado em voz alta. – Ah, Fitz, meu filho, tenha

cuidado, seja prudente.

E, por um momento, fiquei pensativo, por aquilo ter soado como se ele temesse mesmo por

mim. Mas então acrescentou:

– Não me envergonhe, garoto. Nem ao seu pai. Não deixe Galeno dizer que deixei o filho

do meu príncipe crescer metade animal. Mostre a ele que o sangue de Cavalaria realmente

corre em você.

– Vou tentar – balbuciei. E fui para a cama nessa noite sentindo-me desgraçado e

amedrontado.

O Jardim da Rainha não ficava perto nem do Jardim das Mulheres, nem do jardim da cozinha,

nem de nenhum outro jardim em Torre do Cervo. Em vez disso, ficava no topo de uma torre

circular. Os muros do jardim eram altos nas laterais que davam para o mar, mas, nos sentidos

sul e oeste, eram baixos e tinham assentos dispostos ao longo deles. Os muros de pedra

captavam o calor do sol e filtravam os ventos salgados do mar. O ar ali era parado, quase

como se as mãos em concha cobrissem meus ouvidos. E, contudo, havia um certo ar indômito,

selvagem, naquele jardim enraizado em pedra. Havia bacias de pedra, talvez para pássaros

tomarem banho ou antigos jardins de água, e vários baldes, vasos e valas com terra,

entremeados por estátuas. Alguma vez, os baldes e vasos tinham transbordado de vegetações e

flores. Das plantas, apenas uns poucos caules e terra musguenta resistiam. O esqueleto de uma

videira subia por uma treliça semiapodrecida. Uma tristeza antiga tomava conta de mim, mais

gelada do que o primeiro frio de inverno que também estava ali. Paciência devia ter se

apossado deste lugar, pensei. Ela o traria de volta à vida.

Fui o primeiro a chegar. Augusto chegou pouco depois. Tinha a compleição robusta de

Veracidade, da mesma forma que eu tinha a altura de Cavalaria, e o tom de pele escuro dos

Visionários. Como de costume, era distante, mas educado. Fez um sinal com a cabeça e em

seguida começou passear pelo jardim, olhando as estátuas.

Outros apareceram logo depois dele. Fiquei surpreso com quantos éramos, mais de uma

dúzia. Com exceção de Augusto, filho da irmã do rei, nenhum podia ostentar tanto sangue

Visionário quanto eu. Eram primos em primeiro e segundo graus, de ambos os sexos e de

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