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– Simplesmente me diga o que você quer me dizer – sugeri.
– Estou tentando – disse. – Não é fácil saber o que dizer. Não sei nem se deveria estar
falando com você. Isto é uma interferência ou um aconselhamento? Mas as lições ainda não
começaram. Por isso, digo-te uma coisa. Faça o melhor que puder. Não responda a Galeno.
Seja respeitador e cortês. Ouça tudo o que ele te diz e aprenda bem e o mais depressa que
puder.
Fez outra pausa.
– Não tinha intenção de agir de outra maneira – observei com alguma aspereza, pois podia
notar que nada disso era o que Bronco estava tentando dizer.
– Eu sei, Fitz! – suspirou de repente e jogou-se sobre a mesa à minha frente. Pressionou as
têmporas com ambas as mãos, como se estivessem doendo. Nunca o tinha visto tão agitado. –
Há muito tempo falei para você dessa outra... magia. A Manha. Essa vivência com os animais,
que quase faz um humano se tornar um deles.
Fez uma pausa e examinou o quarto com um olhar como se receasse que alguém pudesse
ouvi-lo. Inclinou-se mais para perto de mim e falou suavemente, mas com firmeza. – Não a
use. Tentei o melhor que pude para te fazer ver que é vergonhoso e errado. Mas nunca tive a
impressão de que você concordasse comigo. Ah, eu sei que você obedeceu à regra que eu te
impus contra isso, pelo menos a maior parte do tempo. Mas às vezes percebi, ou suspeitei, que
você fazia experiências com aquilo que nenhum homem de bem deve mexer. Eu te digo, Fitz,
preferiria vê-lo... preferiria vê-lo Forjado. Sim, não faça uma cara tão assustada, é o que eu
sinto de verdade. E quanto a Galeno... ouça, Fitz, não pense sequer em mencionar isso na
presença dele. Não fale disso, nem pense nisso perto dele. Sei pouco sobre o Talento e como
funciona. Mas às vezes... ah, às vezes, quando o seu pai sondava a minha mente, parecia que
sabia o que eu tinha na alma antes que eu soubesse, e via coisas que eu mantinha escondidas
de mim mesmo.
Um súbito e profundo rubor se espalhou pelo rosto sombrio de Bronco e pensei ter visto
lágrimas sob os seus olhos negros. Virou-se para o fogo, e senti que estávamos chegando ao
âmago do que ele precisava me dizer. Precisava, mas não queria. Havia um medo profundo
nele, um medo que negava a si próprio. Um homem menor, um homem menos severo consigo
mesmo, teria tremido com tal coisa.
– ... temo por você, garoto. – falou para as pedras sobre a moldura da lareira, e a voz era
um som tão cavernoso e grave que quase não consegui compreendê-lo.
– Por quê? – Uma pergunta simples sempre funciona melhor, Breu tinha me ensinado.
– Não sei se ele não verá isso em você. Ou o que fará nesse caso. Ouvi dizer... não. Sei que
foi assim. Havia uma mulher, pouco mais do que uma menina, na verdade. Tinha um jeito
especial com os pássaros. Vivia nos montes a oeste daqui, e dizia-se que podia chamar um
falcão selvagem do céu. Algumas pessoas a admiravam e diziam que era um dom. Levavamlhe
aves domésticas doentes, ou chamavam-na quando as galinhas não punham ovos. Não fazia
mais do que ajudar, pelo que ouvi. Mas Galeno fez declarações contra ela. Disse que era uma
aberração e que seria pior para o mundo se ela vivesse para procriar. E numa manhã foi
achada espancada até a morte.
– Foi Galeno quem fez isso?
Bronco encolheu os ombros, um gesto que não combinava com a sua personalidade.
– O cavalo dele esteve fora do estábulo naquela noite. Isso eu sei. E as mãos dele estavam