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– Juncos para fazer papel? – perguntou ela distraidamente.
– Ele usa um papel especial. Tinha várias resmas dele, mas aos poucos as gastou. Obteve-o
de um mercador, que o tinha obtido de outro, e esse por sua vez de outro, e, portanto, não sabe
de onde veio. Mas, pelo que lhe foi dito, era feito de juncos esmagados. Esse papel é de uma
qualidade muito melhor do que qualquer um dos que fazemos: é fino, flexível e não estraga
tanto com o tempo, e, apesar disso, recebe bem a tinta, sem encharcá-la de modo que os cantos
das runas borrem. Penacarriço diz que, se pudéssemos duplicá-lo, muita coisa mudaria. Com
um papel resistente e de boa qualidade, qualquer um poderia ter uma cópia de qualquer tábua
de saber da torre. Se o papel fosse mais barato, mais crianças poderiam ser ensinadas a ler e
escrever, diz ele. Não percebo por que é tão...
– Não sabia que havia alguém aqui que partilhava do meu interesse – uma animação súbita
iluminou o rosto da dama. – Tentou papel feito de raízes de lírio esmagadas? Tive algum
sucesso com isso. E também com papel que você cria trançando e depois umedecendo e
prensando folhas feitas de fios de casca da árvore de quinu. É forte e flexível, mas a
superfície deixa muito a desejar. Ao passo que este papel...
Olhou outra vez de relance para as folhas que segurava na mão e ficou silenciosa. Então
perguntou hesitantemente:
– Você gosta tanto assim deste cãozinho?
– Sim – disse simplesmente, e os nossos olhos se encontraram de repente.
Fitou-me da mesma forma distraída com que olhava frequentemente pela janela. De repente,
seus olhos se encheram de lágrimas.
– Às vezes, você é tão parecido com ele que... – a voz dela se perdeu. – Devia ter sido
meu! Não é justo, devia ter sido meu!
Gritou as palavras com tanta ferocidade que pensei que me atacaria. Em vez disso, ela
saltou sobre mim e apertou-me num abraço, ao mesmo tempo pisando no cão e deixando cair
um vaso de plantas. O cão saltou para trás com um ganido, o vaso se espatifou no chão,
lançando água e estilhaços em todas as direções, enquanto a testa da senhora me acertou com
força no queixo, de forma que por um momento tudo o que vi foram estrelas. Antes que
pudesse reagir, largou-me e saiu correndo para o quarto de dormir com um grito que lembrava
um gato escaldado, batendo a porta atrás de si. E, durante todo esse tempo, Renda continuou
entretida com o seu bordado.
– Ela tem isso, às vezes – observou com bondade e acenou-me com a cabeça na direção da
porta. – Volte amanhã – lembrou-me e acrescentou: – Sabe, a Dama Paciência está ficando
bastante apegada a você.