27.02.2021 Views

O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

– Hum!

O tom de Veracidade indicava que não tinha interesse em discutir mais aquele assunto. Mas

Majestoso franziu as sobrancelhas e continuou.

– A minha mãe, a rainha, não está nada contente com toda essa situação. Tentou durante

muito tempo aconselhar o rei, mas foi em vão. A minha mãe e eu preferíamos deixar o garoto...

de lado. É apenas bom senso. Não precisamos de mais confusão na linha de sucessão.

– Não vejo confusão nenhuma até agora, Majestoso – disse Veracidade numa voz serena. –

Cavalaria, eu e, em seguida, você. Depois o nosso primo Augusto. Este bastardo seria um

longínquo quinto.

– Estou bem ciente de que você precede a mim. Não precisa alardear isso na primeira

oportunidade que aparece – disse Majestoso friamente. E me encarou. – Ainda considero que

seria melhor não o ter à solta por aqui. E se Cavalaria nunca chegar a ter um herdeiro legítimo

com Paciência? E se ele resolver reconhecer este... garoto? Poderia muito bem criar divisões

entre os nobres. Por que brincaríamos com fogo? Assim diz a minha mãe, e assim digo eu.

Mas o nosso pai, o rei, não é um homem apressado, como muito bem sabemos. “Sagaz é como

Sagaz age”, diz o povo. Ele proibiu qualquer tentativa de acabar com o assunto. “Majestoso”,

disse-me daquele jeito que é tão seu, “não faça o que não pode desfazer, até ter considerado o

que não poderá fazer depois de tê-lo feito.” Depois gargalhou. – E o próprio Majestoso deu

uma gargalhada curta e amarga. – O humor dele me cansa tanto.

– Hum – disse Veracidade outra vez, e eu continuei deitado e quieto, perguntando a mim

mesmo se ele estava tentando compreender as palavras do rei ou refreando-se de responder às

queixas do irmão.

– Você percebe as verdadeiras razões dele, obviamente – disse Majestoso.

– Que são...?

– Cavalaria ainda é o seu favorito. – Majestoso parecia inconformado. – Apesar de tudo.

Apesar do casamento insensato e da sua excêntrica mulher. Apesar de toda esta confusão. E

agora pensa que isso deixará o povo entusiasmado, que aumentará a aprovação dos comuns em

relação a Cavalaria. Que provará a virilidade dele, a capacidade de fazer um filho. Ou talvez

demonstre que ele também é um ser humano e que pode fazer besteiras como todos os demais.

– o tom de Majestoso revelava discordância em relação a tudo isso.

– E isso fará as pessoas gostarem mais dele e apoiarem mais o seu futuro reinado? Ter feito

um filho numa mulher selvagem antes de casar com a sua rainha? – Veracidade parecia

confuso pela lógica do irmão.

Pude ouvir a acidez na voz de Majestoso.

– Assim parece pensar o rei. Será que ele não se preocupa nem um pouco com a desonra?

Mas eu suspeito que Cavalaria considerará de forma diferente a possibilidade de usar o

bastardo para tais propósitos. Especialmente por causa da querida Paciência. Contudo, o rei

ordenou que o bastardo seja levado para Torre do Cervo quando você retornar. – Majestoso

olhou para baixo, na minha direção, como se estivesse pouco satisfeito.

Veracidade pareceu preocupado por um instante, mas assentiu. Pairava sobre as feições de

Bronco uma sombra que a luz da lanterna não conseguia dispersar.

– Meu senhor não tem uma palavra a dizer sobre isso? – aventurou-se Bronco a protestar. –

Parece-me que se ele quiser acertar uma soma com a família da mãe do rapaz e afastá-lo...

Então, é claro que, em nome dos sentimentos da Dama Paciência, tal discrição deveria ser

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!