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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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crescesse. Quando o levantei na frente da janela, pude ver manchas fracas de cor. Seria preto

com pintas, então. Descobri uma mancha branca no queixo e outra na perna traseira esquerda.

Cravou as pequenas mandíbulas na manga da minha camisa e a abanou violentamente,

emitindo rosnadas ferozes de cãozinho. Lutei com ele sobre a cama, até que caiu num sono

profundo. Então, coloquei-o sobre a almofada de lã e fui relutantemente para as lições e

tarefas da tarde.

Essa semana inicial com Paciência foi um teste difícil para nós dois. Tinha aprendido a

manter sempre um fio de conexão com Ferreirinho, de forma que nunca se sentisse

suficientemente sozinho para começar a uivar quando eu o deixasse. Mas isso requeria hábito,

e assim eu me sentia sempre um pouco distraído. Bronco franziu a sobrancelha ao perceber,

mas insisti que era devido às sessões com Paciência.

– Não faço ideia do que essa mulher quer de mim – disse-lhe no terceiro dia. – Ontem foi

música. No intervalo de duas horas, tentou me ensinar a tocar harpa, tubos do mar e flauta. A

cada vez que eu chegava perto de descobrir como produzir algumas notas em um deles, ela me

retirava o instrumento da mão e ordenava que eu tentasse outro. Ela terminou dizendo que eu

não tinha aptidão para música. Na manhã de hoje foi poesia. Ela se empenhou em me ensinar

aquele poema sobre a Rainha Panaceia e o seu jardim. Há uma longa parte que fala de todas as

ervas que plantava e para que servia cada uma. E ela continuava a confundir tudo e ficava

brava comigo quando eu repetia o que ela tinha dito, dizendo que eu devia saber que erva-dogato

não é para cataplasmas e que estava fazendo pouco-caso dela. Foi quase um alívio

quando disse que eu tinha provocado uma dor de cabeça tão forte nela que precisávamos

parar. E quando me ofereci para lhe trazer alguns botões do arbusto de mão-de-dama para dor

de cabeça, sentou-se ereta e disse: “Está vendo! Sabia que estava fazendo pouco-caso de

mim”. Não sei como agradá-la, Bronco.

– E por que você teria de fazer isso? – resmungou, e deixei o assunto morrer.

Nessa noite, Renda veio até o meu quarto. Bateu à porta e entrou, torcendo o nariz.

– É melhor que traga algumas ervas aromáticas para espalhar pelo quarto se você for

manter esse cachorro aqui. E use um pouco de vinagre e água quando esfregar os dejetos dele.

Isso aqui está com cheiro de estábulo.

– Imagino que sim – admiti. Olhei-a com curiosidade e esperei.

– Trouxe isto para você. Pareceu-me que foi o que você gostou mais.

Ofereceu-me os tubos do mar. Peguei os tubos curtos e grossos unidos por tiras de couro.

Preferira esse instrumento entre os três que experimentei. A harpa tinha cordas demais e a

flauta me pareceu um pouco estridente mesmo quando Paciência a tocou.

– Foi a Dama Paciência que os enviou para mim? – perguntei, intrigado.

– Não. Ela nem sequer sabe que eu os peguei. Vai imaginar que estão perdidos no meio da

bagunça, como de costume.

– Então por que você os trouxe?

– Para que possa praticar. Quando tiver um pouco de habilidade com eles, traga-os de volta

e mostre a ela.

– Por quê?

Renda suspirou.

– Porque a faria se sentir melhor. E deixaria a minha vida mais fácil. Não há nada pior do

que ser a aia de alguém de coração tão triste quanto a Dama Paciência. Ela deseja

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