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– Por que não? – tentei ser desdenhoso.
– Seria um erro para ambos – o Bobo abanou a pequena cauda de Ferreirinho, que rebolou
com um rosnar de filhote. – Ela vai querer te dar coisas. Terá de aceitá-las, pois não há
maneira educada de recusar. Mas terá de decidir se vão servir para criar entre vocês uma
ponte ou um muro.
– Você conhece Breu? – perguntei-lhe abruptamente, pois o Bobo estava parecendo tanto
com ele que de repente tinha de saber.
Nunca tinha mencionado o nome de Breu a nenhuma outra pessoa, com exceção de Sagaz,
nem tinha ouvido ninguém falar dele na torre.
– Escuro como breu ou claro como o dia, sei quando devo ter tento na língua. Seria bom
para você se aprendesse o mesmo – o Bobo se levantou de repente e se dirigiu para a porta.
Parou ali por um momento. – Ela apenas o odiou durante os primeiros meses. E não era
verdadeiramente ódio de você: era ciúme cego da sua mãe, que pôde dar um filho a Cavalaria,
o que ela não conseguiu. Depois disso, o coração dela amoleceu. Queria mandar te chamar e
te educar como se fosse filho dela. Alguns poderão dizer que queria simplesmente possuir
qualquer coisa que se relacionasse a Cavalaria. Mas não creio que fosse isso.
Eu estava pasmado olhando para o Bobo.
– Você parece um peixe, com a boca assim aberta – observou. – Mas, claro, o seu pai
recusou. Disse que podia parecer que tinha formalmente te aceitado como seu filho bastardo.
Mas também não penso que fosse bem isso. Penso que teria sido perigoso para você.
O Bobo fez um gesto esquisito com a mão, e um espeto com carne-seca apareceu nos dedos
dele. Sabia que estava escondido na manga, mas era incapaz de ver como conseguia fazer os
seus truques. Atirou a carne sobre a minha cama, e o cãozinho deu um pulo em cima dela,
gananciosamente.
– Pode magoá-la, se você quiser – sugeriu-me. – Sente-se muito culpada por você viver tão
sozinho. E você se parece tanto com Cavalaria que o que quer que você diga será para ela
como se viesse diretamente dos lábios dele. Ela é como uma pedra preciosa com uma
rachadura. Um toque preciso seu e ela vai se estilhaçar em pedacinhos. Está meio maluca,
sabe? Eles nunca teriam conseguido matar Cavalaria se ela não tivesse consentido com a
abdicação. Pelo menos, não o teriam feito com uma indiferença tão displicente em relação às
consequências. E ela sabe disso.
– Quem é “eles”? – perguntei.
– Quem “são” eles? – o Bobo me corrigiu e desapareceu. Quando cheguei à porta, já não
estava por perto. Sondei em busca da mente dele, mas não o encontrei. Era quase como se
fosse um Forjado. Tremi ao pensar nisso, e depois fui outra vez ficar com Ferreirinho. Estava
mastigando a carne, deixando alguns pedaços viscosos espalhados por toda a cama. Comecei
a observá-lo.
– O Bobo foi embora – disse a Ferreirinho. Abanou-se como sinal casual de que tinha me
ouvido e voltou à carne.
Ele era meu, dado para mim. Não era um cachorro de estábulo do qual eu tratava, mas meu,
e fora do conhecimento ou autoridade de Bronco. Além das roupas e da pulseira de cobre que
Breu tinha me dado, tinha poucos bens. Mas ele era compensação suficiente por todas as
coisas que nunca tive.
Era lustroso e saudável. O pelo era macio agora, mas se tornaria crespo à medida que