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esforço voluntário da sua parte. Bom dia, Tom.
– Bom dia, senhora.
Virei-me e fui embora. Os olhos de Renda me acompanharam e, em seguida, viraram-se
para a senhora. Podia sentir que estava desapontada, mas não sabia com o quê.
Ainda era cedo. Essa primeira recepção tinha levado menos de uma hora. Eu não era
esperado em nenhum lugar: este tempo era meu. Fui para a cozinha, com o intuito de pedir
algumas sobras para o meu cãozinho. Teria sido fácil levá-lo comigo para o estábulo, mas, se
fizesse isso, Bronco saberia dele. Não me iludia com o que aconteceria a seguir. O cachorro
ficaria no estábulo. Seria nominalmente meu, mas Bronco faria o necessário para garantir que
essa nova ligação fosse cortada. Eu não tinha intenção de deixar que isso acontecesse.
Fiz meus planos. Um cesto das lavadeiras e uma camisa velha sobre palha para servir de
cama para ele. Os dejetos que ele produzisse agora seriam pequenos e, à medida que se
tornasse mais velho, meu vínculo com ele seria mais fácil de ser treinado. Por enquanto, teria
de ficar sozinho durante uma parte de cada dia. Mas conforme fosse crescendo poderia me
acompanhar. Mais cedo ou mais tarde, Bronco iria descobri-lo. Afastei esse pensamento
resolutamente. Daria um jeito nisso depois. Neste momento, precisava de um nome. Olhei-o de
cima a baixo. Não era um daqueles terriers de pelo encaracolado que soltam ganidos
estridentes. Seu pelo seria curto e lustroso, e teria um pescoço grosso. Mesmo adulto não
bateria no meu joelho; por isso, não podia ter um nome muito pesado. Não queria que fosse um
lutador. Portanto, nada de Triturador ou Feroz. Seria persistente e atento. Tenaz, talvez. Ou
Sentinela.
– Ou Bigorna. Ou Forja.
Olhei para cima. O Bobo saiu de uma alcova e seguiu-me pelo pátio abaixo.
– Por quê? – perguntei.
Há tempos que tinha deixado de questionar a forma como o Bobo conseguia adivinhar o que
eu estava pensando.
– Porque o seu coração será martelado sobre ele, e sua força ganhará têmpera no fogo dele.
– Parece um pouco dramático demais – discordei. – E Forja é uma palavra ruim nos dias de
hoje. Não quero deixar o meu cãozinho marcado com ela. Ainda outro dia, no povoado, ouvi
um bêbado gritar a um batedor de carteira: “Que a sua mãe seja Forjada!”. Todas as pessoas
na rua pararam para olhar.
O Bobo encolheu os ombros.
– Eles poderiam muito bem fazer isso – seguiu-me para dentro do quarto. – Ferreiro, então.
Ou Ferreirinho. Deixe-me vê-lo.
Relutantemente, dei-lhe o cãozinho. O filhote se mexeu, acordou e se sacudiu nas mãos do
Bobo. Não tem cheiro, não tem cheiro. Fiquei surpreso ao concordar com ele. Mesmo com o
pequeno focinho negro trabalhando para mim, o Bobo não tinha nenhum odor que pudesse ser
detectado.
– Cuidado. Não o deixe cair.
– Sou um Bobo, não sou um imbecil – disse o Bobo, mas se sentou na cama e pôs o
cachorro ao seu lado.
Ferreirinho começou logo a farejar e amarrotar a cama. Sentei-me do outro lado dele para
evitar que se aventurasse demais perto da beirada.
– Então – perguntou o Bobo em tom casual –, vai deixá-la te comprar com presentes?