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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Ele tinha se aninhado na curva do meu braço e casualmente dava mordidinhas na beirada do

meu gibão. É difícil explicar o que senti. Precisava dar atenção à Dama Paciência, mas aquela

pequena criatura encostada em mim irradiava deleite e contentamento. É uma coisa inebriante

ser subitamente proclamado o centro do mundo de alguém, mesmo que esse alguém seja um

cãozinho de oito semanas de vida. Isso me fez perceber o quão profundamente sozinho eu me

sentia, e há quanto tempo.

– Obrigado – disse, e mesmo eu fiquei surpreso com a gratidão na minha voz. – Muitíssimo

obrigado.

– É apenas um cãozinho – disse a Dama Paciência e, para minha surpresa, parecia quase

envergonhada.

Virou-se para o lado e olhou pela janela. O cãozinho lambeu o nariz e fechou os olhos.

Quente. Sono.

– Fale-me de você – pediu-me abruptamente.

Fiquei perplexo.

– O que gostaria de saber, senhora?

Fez um pequeno gesto de frustração.

– O que faz todo dia? O que é que te ensinaram?

Tentei ceder ao pedido, mas logo pude ver que a resposta não a satisfazia. Apertava

fortemente os lábios a cada menção do nome de Bronco. Não estava impressionada com meu

treinamento marcial. De Breu, não podia lhe contar nada. Acenou com a cabeça numa

aprovação a contragosto do estudo de línguas, escrita e cifras.

– Bem – interrompeu-me de repente. – Pelo menos você não é totalmente ignorante. Se pode

ler, pode aprender o que quer que seja. Se tiver vontade. Tem vontade de aprender?

– Suponho que sim – foi uma resposta morna, mas começava a me sentir acossado. Nem

sequer o cãozinho de presente podia compensar o menosprezo dela pelos meus estudos.

– Suponho que aprenderá, então. Porque quero que você tenha vontade, mesmo se ainda não

a tem – e, de repente, tornou-se severa, numa mudança de atitude que me deixou

completamente desnorteado. – E como é que te chamam, garoto?

A mesma pergunta outra vez.

– “Garoto” está bom – balbuciei.

O cãozinho adormecido nos meus braços ganiu agitado. Forcei-me a me acalmar por causa

dele.

Tive a satisfação de ver uma expressão de choque passar brevemente pelo rosto de

Paciência.

– Vou te chamar... hum... Tomás. Tom no dia a dia. Está de acordo?

– Suponho que sim – disse deliberadamente.

Bronco se esforçava mais para dar nome a um cão do que aquilo. Não tínhamos nem

Pretinhos nem Malhados no estábulo. Bronco dava o nome a cada animal como se fosse para

um nobre, dava nomes que os descreviam ou características que desejava para eles. Mesmo o

nome de Fuligem revelava um fogo gentil que eu tinha passado a respeitar. Mas essa mulher

me deu o nome de Tom num só fôlego. Olhei para baixo para que ela não pudesse ver meus

olhos.

– Bem, então – disse, um pouco bruscamente. – Venha amanhã na mesma hora. Terei

algumas coisas preparadas para você. Eu te aviso, desde já, que ficarei à espera de um

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