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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Eram piores que os de Breu. Teria pensado que estavam atolados de coisas devido a anos

de uso, se não soubesse que ela tinha chegado ali recentemente. Mesmo um inventário

completo do quarto não teria conseguido descrevê-lo, pois era a justaposição de objetos que o

fazia tão digno de observação. Um leque de penas, uma luva de esgrima e um ramo de juncos

estavam todos enfiados dentro de uma bota muito gasta. Uma pequena cadela negra e dois

cachorrinhos gordinhos dormiam num cesto revestido com uma capa de pele e algumas meias

de lã. Uma família de morsas esculpidas empoleirava-se numa tábua com escritos sobre

ferraduras de cavalos. Mas o elemento dominante era a profusão de plantas. Havia nuvens

espessas de vegetação transbordando de vasos de barro; xícaras de chá, tigelas e vasos

plantados de caules, flores colhidas e verduras; vinhas sendo reveladas de dentro de canecas

sem alças e copos partidos. Experiências sem sucesso evidenciavam-se em pedaços de paus

lisos, erguendo-se de vasos cheios de terra. As plantas empoleiravam-se e amontoavam-se em

qualquer lugar aonde o sol chegasse pelas janelas de manhã ou à tarde. O efeito era como um

jardim entrando pelas janelas e crescendo em torno da bagunça no quarto.

– Ele deve estar com fome também, não é, Renda? Ouvi dizer isso dos garotos. Deve ter um

pouco de queijo e uns biscoitos em cima da estante, ao lado da minha cama. Você poderia

trazê-los para ele, por favor, minha querida?

A Dama Paciência estava em pé a pouco mais de um braço de distância de mim enquanto

falava com a aia, como se eu fosse invisível.

– Não estou com fome, na verdade, muito obrigado – balbuciei, antes que Renda

conseguisse ficar em pé. – Estou aqui porque me disseram... para eu me colocar à sua

disposição, de manhã, pelo tempo que desejar.

Isso era uma cuidadosa reformulação. O que o Rei Sagaz de fato tinha me dito era:

– Vá aos aposentos dela todas as manhãs, e faça o que quer que ela pense que você deve

fazer, de modo que ela me deixe em paz. E continue fazendo isso até que ela se canse tanto de

você como eu estou cansado dela.

A rude franqueza do rei tinha me surpreendido, pois nunca o tinha visto tão tenso como

nesse dia. Veracidade entrava no momento em que eu me retirava, e ele também parecia muito

nervoso e cansado. Ambos falavam e moviam-se como se tivessem bebido muito vinho na

noite anterior e, contudo, eu tinha visto os dois à mesa ao serão e esse jantar tinha sido

marcado por uma ausência tanto de boa disposição quanto de vinho. Veracidade fez um afago

no meu cabelo quando passei por ele.

– Cada dia mais parecido com o pai – observou, provocando um trejeito de desagrado em

Majestoso, que vinha atrás dele.

Majestoso me lançou um olhar de raiva ao entrar nos aposentos do rei e fechou a porta atrás

de si, espalhafatosamente.

E assim, ali estava eu, nos aposentos da senhora, e ela andava à minha volta e falava

passando por mim como se eu fosse um animal que pudesse subitamente atacá-la ou sujar os

carpetes dela. Eu podia ver que Renda estava achando muito engraçada aquela situação.

– Sim, já sabia disso. Veja, porque fui eu que pedi ao rei que você fosse enviado aqui –

explicou-me cautelosamente a Dama Paciência.

– Sim, senhora.

Eu me mexi um pouco no pequeno espaço do meu assento e tentei parecer inteligente e de

boas maneiras. Lembrando-me das vezes anteriores em que tínhamos nos encontrado,

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