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– E? – Breu me encorajou.
– E, portanto, ele prefere Majestoso a Veracidade e mesmo ao rei. E Majestoso, bem, o
aceita. É mais amigável com ele do que costuma ser com serventes e soldados. Parece
aconselhar-se com ele, considerando as poucas vezes que vi os dois juntos. É quase divertido
observá-los um ao lado do outro; poderia dizer que Galeno estava imitando Majestoso, de tal
modo que se veste e anda como o príncipe. Às vezes até parecem ser gêmeos.
– Ah, é? – Breu curvou-se para chegar mais perto de mim, aguardando. – E o que mais você
notou?
Procurei na memória por algum outro conhecimento em primeira mão sobre Galeno.
– É tudo, eu acho.
– Ele falou alguma vez com você?
– Não.
– Entendo. – Breu acenou com a cabeça. – E o que você sabe da reputação dele? Do que
suspeita? – Ele estava tentando me guiar para alguma conclusão, mas não conseguia adivinhar
qual era.
– Ele é de Vara. Um homem do interior. A família dele chegou a Torre do Cervo com a
segunda rainha do Rei Sagaz. Ouvi dizer que tem medo da água, de navegar ou nadar. Bronco
o respeita, mas não gosta dele. Diz que é um homem que sabe do seu trabalho e o faz, mas
Bronco não consegue se dar bem com quem quer que seja que maltrate um animal, mesmo
quando faz isso por ignorância. O pessoal da cozinha também não gosta dele. Ele está sempre
fazendo os mais jovens chorarem. Acusa as moças de deixarem cair cabelo nas suas refeições
e de estarem com as mãos sujas, e diz que os rapazes não têm modos e que não servem a
comida corretamente. E, por isso, os cozinheiros também não gostam dele, porque quando os
aprendizes estão nervosos, não trabalham bem.
Breu continuava olhando para mim, na expectativa, como se esperasse por algo muito
importante. Puxei na memória para me lembrar de outros rumores.
– Ele usa uma correia com três gemas incrustadas. A Rainha Desejo deu para ele, por algum
serviço especial que ele prestou a ela. Bobo o detesta. Disse-me uma vez que, quando
ninguém está por perto, Galeno o chama de aberração e atira coisas nele.
As sobrancelhas de Breu se ergueram.
– O Bobo fala com você?
O tom era mais do que incrédulo. Endireitou-se na cadeira tão subitamente que o vinho
saltou do seu copo e entornou sobre o seu joelho. Esfregou-o distraidamente com a manga.
– Às vezes – confessei cautelosamente. – Não com muita frequência. Apenas quando lhe
apetece. Simplesmente aparece e me diz coisas.
– Coisas? Que tipo de coisas?
De repente percebi que eu nunca tinha contado a ele da charada do fitz-finda-faísca-asfixia.
Parecia muito complicado naquele momento abordar o assunto.
– Ah, apenas coisas esquisitas. Há mais ou menos dois meses, ele me parou e me disse que
o dia seguinte seria ruim para caçar. Mas foi bom. Bronco pegou aquele veado grande nesse
dia. Lembra? Foi no mesmo dia em que encontramos aquele carcaju, que feriu gravemente dois
dos cães.
– Se eu me lembro bem, ele quase te pegou. – Breu inclinou-se para a frente, com uma
expressão estranhamente satisfeita no rosto.