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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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penso que ela se arrepende de muita coisa e está tentando compensar o tempo perdido, algo

que nunca funciona. Você vai ter de reduzir o seu treino de armas. E Bronco vai ter de achar

outro rapaz para o estábulo.

Eu não me importava com o treino de armas. Como Breu tinha me feito notar com

frequência, um bom assassino trabalha de perto e silenciosamente. Se eu aprendesse bem a

minha profissão, não ficaria manejando espadas longas contra ninguém. Mas o tempo que

costumava passar com Bronco... mais uma vez tive a sensação estranha de não saber o que

sentia. Odiava Bronco. Às vezes. Ele era dominador, ditatorial e insensível. Esperava que eu

fosse perfeito e, contudo, dizia-me sem rodeios que eu nunca devia esperar nenhuma

recompensa por isso, mas também era aberto e direto, e acreditava que eu podia ser bemsucedido

naquilo que ele exigia de mim...

– Você provavelmente está pensando que vantagem é que ela nos trouxe – Breu continuava,

sem se dar conta do meu conflito interno. Reconheci uma empolgação suprimida na voz dele. –

É algo que já tentei conseguir para você duas vezes, e duas vezes recusaram. Mas Paciência

teimou e teimou até que ele se rendeu. É o Talento, garoto. Você vai ser treinado para o

Talento.

– O Talento – repeti, sem nenhuma ideia do que estava dizendo. Era tudo muito rápido para

mim.

– Sim.

Tentei organizar os meus pensamentos.

– Bronco me falou disso uma vez. Há muito tempo.

Abruptamente, lembrei-me do contexto dessa conversa. Depois de Narigudo ter nos

entregado acidentalmente. Falava disso como o oposto do que quer que fosse o sentido que eu

partilhava com os animais. O mesmo sentido que tinha me revelado a mudança no povo de

Forja. Será que treinar um me libertaria do outro? Ou seria uma privação? Pensei na

familiaridade que partilhava com cavalos e cães quando sabia que Bronco não estava por

perto. Lembrava-me de Narigudo, numa mistura de comoção e sofrimento. Nunca tinha estado

tão perto, antes ou depois, de outra criatura viva. Será que este novo treino para o Talento iria

me privar disso?

– Qual é o problema, garoto? – a voz de Breu era gentil, mas preocupada.

– Não sei – hesitei. Mas nem mesmo a Breu eu ousava revelar o meu medo. Ou a minha

mácula. – Nada.

– Você tem ouvido os relatos antigos sobre o treino – tentou adivinhar, completamente

errado. – Ouça, garoto, não pode ser assim tão ruim. Cavalaria passou por isso. E Veracidade

também. E, com a ameaça dos Navios Vermelhos, Sagaz decidiu voltar aos velhos costumes, e

estendeu o treino a outros possíveis candidatos. Quer criar um círculo, ou até dois, para

complementar o que ele e Veracidade podem fazer. Galeno não está muito entusiasmado, mas

creio que é uma ideia muito boa. Embora, mesmo eu próprio sendo um bastardo, nunca me ter

sido permitido o treino. Portanto, não tenho nenhuma ideia concreta de como o Talento pode

ser usado para defender as nossas terras.

– Você é um bastardo? – as palavras irromperam de mim. Todos os meus pensamentos

emaranhados foram subitamente cortados ao meio por essa revelação. Breu me encarou, tão

chocado com as minhas palavras quanto eu com as suas.

– Claro. Pensei que você já tivesse percebido isso há muito tempo. Garoto, para alguém tão

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