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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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um cavalo ou um cão que estivesse mostrando um potencial inesperado.

Abriu a boca como se fosse dizer mais alguma coisa, mas então abanou a cabeça e soltou

uma meia bufada.

– E então? – perguntou, e comecei o meu relatório.

Bronco tinha estado fora pouco mais de um mês, mas gostava de saber das coisas nos

mínimos detalhes. Caminhou ao meu lado, ouvindo, enquanto eu conduzia o cavalo para uma

baia e começava a cuidar dele.

Às vezes eu me surpreendia com o quão parecido ele podia ser com Breu. Eram muito

semelhantes na maneira como esperavam que eu me lembrasse de detalhes exatos, e que fosse

capaz de relatar as atividades da semana ou do mês anterior na ordem correta. Aprender a

fazer relatórios para Breu não tinha sido muito difícil; tinha apenas formalizado os requisitos

do que Bronco exigia de mim há muito tempo. Anos mais tarde, percebi como aquilo era

semelhante a um homem de armas se reportando aos seus superiores.

Outro homem teria ido para a cozinha ou tomar banho depois de ouvir a minha versão

resumida do que tinha acontecido na sua ausência. Mas Bronco insistiu em andar pelas baias,

parando aqui para conversar com um rapaz do estábulo e ali para falar em voz suave a um

cavalo. Quando chegou ao velho palafrém da senhora, parou. Olhou o cavalo durante alguns

minutos em silêncio.

– Eu treinei este animal – disse abruptamente, e, ao ouvir a sua voz, o cavalo se virou no

estábulo para encará-lo e relinchou suavemente. – Seda – disse, e fez um afago no seu focinho.

Suspirou de repente. – Portanto, a Dama Paciência está aqui. Ela já te viu?

Aquela era uma pergunta difícil de responder naquele momento. Um milhão de pensamentos

assolou a minha cabeça de uma só vez. A Dama Paciência, a esposa do meu pai e, de certa

maneira, a maior responsável por ele ter abandonado a corte e a mim. Era com ela que eu

tinha conversado na cozinha e a quem eu tinha feito uma saudação embriagado. Foi ela quem

tinha me interrogado naquela manhã sobre a minha educação. Para Bronco, balbuciei:

– Não formalmente. Mas já nos encontramos.

Ele me surpreendeu ao começar a rir.

– A sua cara diz tudo, Fitz. Posso ver que ela não mudou muito só pela sua reação. A

primeira vez que eu a encontrei foi no pomar do pai dela. Estava sentada no topo de uma

árvore. Pediu que eu removesse uma lasca do pé dela e tirou o sapato e a meia ali mesmo para

que eu pudesse fazer isso. Ali mesmo, na minha frente. E não fazia ideia de quem eu era. Nem

eu dela. Pensei que fosse a aia da senhora. Isso foi há muitos anos, é claro, e mesmo alguns

anos antes de o meu príncipe conhecê-la. Suponho que eu não era muito mais velho do que

você é agora – fez uma pausa e o rosto dele se tranquilizou. – Ela tinha um cãozinho miserável

que trazia sempre consigo num cesto. Estava sempre ofegando e se engasgando com bolas do

próprio pelo. O nome dele era Espanador – parou por um momento e sorriu quase

afetuosamente. – Que coisa para lembrar, depois de todos esses anos.

– Ela gostou de você, quando te conheceu? – perguntei, com falta de tato.

Bronco olhou para mim e os olhos ficaram opacos, o homem desaparecendo por trás do

olhar fixo.

– Mais do que gosta agora – disse abruptamente. – Mas isso pouco importa. E me diga lá,

Fitz. O que ela achou de você?

Ora, essa era uma pergunta totalmente diferente. Eu me empenhei num relato dos nossos

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