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um cavalo ou um cão que estivesse mostrando um potencial inesperado.
Abriu a boca como se fosse dizer mais alguma coisa, mas então abanou a cabeça e soltou
uma meia bufada.
– E então? – perguntou, e comecei o meu relatório.
Bronco tinha estado fora pouco mais de um mês, mas gostava de saber das coisas nos
mínimos detalhes. Caminhou ao meu lado, ouvindo, enquanto eu conduzia o cavalo para uma
baia e começava a cuidar dele.
Às vezes eu me surpreendia com o quão parecido ele podia ser com Breu. Eram muito
semelhantes na maneira como esperavam que eu me lembrasse de detalhes exatos, e que fosse
capaz de relatar as atividades da semana ou do mês anterior na ordem correta. Aprender a
fazer relatórios para Breu não tinha sido muito difícil; tinha apenas formalizado os requisitos
do que Bronco exigia de mim há muito tempo. Anos mais tarde, percebi como aquilo era
semelhante a um homem de armas se reportando aos seus superiores.
Outro homem teria ido para a cozinha ou tomar banho depois de ouvir a minha versão
resumida do que tinha acontecido na sua ausência. Mas Bronco insistiu em andar pelas baias,
parando aqui para conversar com um rapaz do estábulo e ali para falar em voz suave a um
cavalo. Quando chegou ao velho palafrém da senhora, parou. Olhou o cavalo durante alguns
minutos em silêncio.
– Eu treinei este animal – disse abruptamente, e, ao ouvir a sua voz, o cavalo se virou no
estábulo para encará-lo e relinchou suavemente. – Seda – disse, e fez um afago no seu focinho.
Suspirou de repente. – Portanto, a Dama Paciência está aqui. Ela já te viu?
Aquela era uma pergunta difícil de responder naquele momento. Um milhão de pensamentos
assolou a minha cabeça de uma só vez. A Dama Paciência, a esposa do meu pai e, de certa
maneira, a maior responsável por ele ter abandonado a corte e a mim. Era com ela que eu
tinha conversado na cozinha e a quem eu tinha feito uma saudação embriagado. Foi ela quem
tinha me interrogado naquela manhã sobre a minha educação. Para Bronco, balbuciei:
– Não formalmente. Mas já nos encontramos.
Ele me surpreendeu ao começar a rir.
– A sua cara diz tudo, Fitz. Posso ver que ela não mudou muito só pela sua reação. A
primeira vez que eu a encontrei foi no pomar do pai dela. Estava sentada no topo de uma
árvore. Pediu que eu removesse uma lasca do pé dela e tirou o sapato e a meia ali mesmo para
que eu pudesse fazer isso. Ali mesmo, na minha frente. E não fazia ideia de quem eu era. Nem
eu dela. Pensei que fosse a aia da senhora. Isso foi há muitos anos, é claro, e mesmo alguns
anos antes de o meu príncipe conhecê-la. Suponho que eu não era muito mais velho do que
você é agora – fez uma pausa e o rosto dele se tranquilizou. – Ela tinha um cãozinho miserável
que trazia sempre consigo num cesto. Estava sempre ofegando e se engasgando com bolas do
próprio pelo. O nome dele era Espanador – parou por um momento e sorriu quase
afetuosamente. – Que coisa para lembrar, depois de todos esses anos.
– Ela gostou de você, quando te conheceu? – perguntei, com falta de tato.
Bronco olhou para mim e os olhos ficaram opacos, o homem desaparecendo por trás do
olhar fixo.
– Mais do que gosta agora – disse abruptamente. – Mas isso pouco importa. E me diga lá,
Fitz. O que ela achou de você?
Ora, essa era uma pergunta totalmente diferente. Eu me empenhei num relato dos nossos