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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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equilíbrio biscoitos e queijo e caneca, ela fez um gesto em direção ao banco diante dela.

– Sente-se – ela me disse, como se lesse os meus pensamentos. – Não é justo que eu te

afugente da sua refeição.

O tom não era nem de comando nem de convite, mas qualquer coisa entre os dois. Sentei no

lugar que ela me indicou, derramando um pouco de cerveja, enquanto tentava colocar a

comida e a caneca no lugar. Senti os seus olhos sobre mim ao me sentar. A comida dela

continuou ignorada à sua frente. Baixei a cabeça para evitar o olhar fixo sobre mim e comi

com pressa, tão furtivo quanto um rato num canto, suspeitando de que houvesse um gato atrás

da porta à espera. Ela não me encarava de uma forma rude, mas me observava

escancaradamente, com o tipo de atenção que deixava as minhas mãos atrapalhadas e que

subitamente me fez ter consciência de que, sem pensar, tinha acabado de limpar a boca nas

costas da manga.

Não me ocorria nada que pudesse dizer e, contudo, o silêncio me feria. O biscoito parecia

seco na minha boca, fazendo-me tossir e, quando tentei empurrá-lo com cerveja, me engasguei.

As sobrancelhas dela franziram, e a boca ficou mais firme. Mesmo com os olhos fixos no

prato, senti o olhar dela. Comi com pressa, querendo apenas escapar dos olhos cor de avelã e

da boca direita e silenciosa. Empurrei os últimos pedaços de pão e queijo para dentro da boca

e me levantei com rapidez, tropeçando contra a mesa e quase derrubando o banco na minha

pressa. Fui para a porta e então me lembrei das instruções de Bronco sobre como sair na

presença de uma senhora.

– Boa noite para você, dama – balbuciei, pensando que as palavras não estavam muito

corretas, mas incapaz de encontrar melhores. Fui em direção à porta como um caranguejo.

– Espere – ela disse, e quando parei, perguntou: – Você dorme em cima ou lá fora, no

estábulo?

– Nos dois. Às vezes. Quero dizer, algumas vezes num lado, outras vezes no outro. Ah, boa

noite então, senhora. Virei-me e quase desatei a fugir. Já estava no meio das escadas quando

comecei a pensar na estranheza da questão. Foi apenas ao me despir, antes de me deitar, que

percebi que ainda segurava a caneca de cerveja vazia. Fui dormir, sentindo-me um idiota, e

tentando entender por quê.

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