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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Fiquei contente com o seu sucesso. Ouvi até mesmo comentários, mais do que uma vez, de

que o Príncipe Veracidade devia arranjar para si mesmo uma dama com sentimentos

semelhantes. Como acontecia com frequência quando estava ausente, resolvendo assuntos

internos e perseguindo os salteadores, o povo começava a sentir a necessidade de um regente

forte em casa. O velho rei, Sagaz, ainda era nominalmente o soberano, mas, como Bronco

observou, as pessoas tendem a olhar para o futuro.

– E – acrescentou – as pessoas gostam de saber que o Príncipe Herdeiro tem uma cama

quente para onde voltar. Dá a eles algo para imaginar. Poucos podem ter romance nas suas

próprias vidas, por isso imaginam tudo o que podem para o rei. Ou o príncipe.

Mas o próprio Veracidade, eu sabia, não tinha tempo para pensar em camas bem aquecidas,

ou sequer em qualquer tipo de cama. Forja tinha sido, ao mesmo tempo, um exemplo e uma

ameaça. Outras se seguiram, três em rápida sucessão. Quintinha, perto das Ilhas Próximas,

tinha sido aparentemente “Forjada pelos Salteadores”, como se começou a dizer algumas

semanas antes. As notícias demoraram a chegar das costas geladas, mas, quando chegaram,

eram assustadoras. De Quintinha também foram levados reféns. O conselho da povoação tinha

ficado, como Sagaz, estupefato com o ultimato dos Navios Vermelhos de que deveriam pagar

tributo ou os reféns seriam devolvidos. Não pagaram. E, como em Forja, os reféns foram

devolvidos, na maior parte saudáveis de corpo, mas destituídos de quaisquer das emoções

mais bondosas da humanidade. O rumor era de que Quintinha tinha sido mais direta na solução

do problema. O clima severo das Ilhas Próximas cria um povo severo, que considerou um ato

de caridade passar pela lâmina da espada os familiares agora desprovidos de alma.

Dois outros povoados foram atacados depois de Forja. Em Porta da Rocha, a população

decidiu pagar o resgate. Partes de corpos apareceram na costa no dia seguinte, e a vila se uniu

para sepultá-los. As notícias chegaram a Torre do Cervo sem pedidos de desculpa; apenas

com a acusação velada de que, se o rei tivesse sido mais cauteloso, teriam recebido pelo

menos um aviso antes do ataque.

Os habitantes de Charco da Ovelha enfrentaram o desafio de um jeito direto. Recusaram-se

a pagar tributos, mas, com os rumores de Forja ainda correndo frescos pela terra, prepararamse.

Foram ao encontro dos reféns devolvidos com cabrestos e algemas. Pegaram de volta os

seus, em alguns casos tendo de espancá-los até perderem os sentidos antes de os atarem, e os

levaram de volta para casa. O povoado se uniu na tentativa de trazê-los de volta àquilo que

tinham sido. As histórias de Charco da Ovelha eram as mais contadas: de uma mãe que se pôs

aos berros quando puseram ao seu lado o filho para que o embalasse, declarando, enquanto

rogava pragas ao pequeno, que não havia utilidade para uma criatura choramingando e

molhada; da criança que chorava e gritava por estar algemada, para logo dar um salto em

direção ao pai com um espeto de assar carne no momento em que o pobre senhor, de coração

partido, a tinha libertado. Alguns praguejavam, e lutavam, e cuspiam nos seus familiares.

Outros se acomodaram a uma vida de cativeiro e de ócio, comendo a comida e bebendo a

cerveja que eram servidas a eles, sem oferecer quaisquer palavras de gratidão ou afeto. Estes,

libertados das amarras, não atacavam as próprias famílias, mas também não trabalhavam nem

se juntavam aos seus passatempos durante o serão. Roubavam sem remorso, mesmo os

próprios filhos, desperdiçavam dinheiro e devoravam comida como glutões. Não traziam

alegria a ninguém, nem ofereciam uma palavra de gentileza. Apesar disso, as notícias de

Charco da Ovelha eram de que o povo de lá tinha a intenção de perseverar até que a “doença

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