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noite toda junto às suas costas, esperando mantê-lo quente, e no dia seguinte usei o que restava
dos mantimentos para alimentá-lo.
À tardinha, ele já estava recuperado o suficiente para conseguir viajar, e assim começamos
a nossa deprimente jornada de regresso. Fomos devagar e durante a noite. Breu escolhia os
caminhos, mas eu liderava, e, com frequência, ele era pouco mais do que uma carga inerte
sobre o cavalo. Levamos dois dias para percorrer a distância que tínhamos atravessado
naquela noite desenfreada. A comida era pouca e a conversa ainda menos. Pensar era o
suficiente para cansar Breu, e o que quer que pensasse era sombrio demais para que se
expressasse em palavras.
Ele me apontou o lugar onde eu devia acender o sinal de fogo que nos traria de volta o
barco. Enviaram uma chalupa à costa, e ele embarcou sem dizer uma palavra. Isso me mostrou
o quão exausto ele estava. Ele simplesmente aceitava que eu seria capaz de levar os cavalos
cansados para o navio. E assim o meu orgulho me forçou a conseguir executar essa tarefa e,
uma vez a bordo, dormi como não tinha dormido durante vários dias. E então desembarcamos
outra vez e fizemos uma caminhada exaustiva de volta a Baía Limpa. Chegamos de manhã, e
Dama Timo imediatamente fixou residência na estalagem.
Na tarde do dia seguinte, pude dizer à dona da estalagem que a senhora idosa estava muito
melhor e que apreciaria ter uma travessa da cozinha, quando fossem enviadas para os quartos.
Breu parecia mesmo melhor, embora de vez em quando suasse profusamente, e ficasse nesses
momentos com um cheiro rançoso de semente de carris. Comeu vorazmente e bebeu grandes
quantidades de água. Dois dias depois, disse-me para avisar a dona da estalagem que a Dama
Timo partiria na manhã seguinte.
Eu me recuperei mais depressa, e tive várias tardes para vaguear pela Baía Limpa, olhando
as lojas e os vendedores e mantendo os ouvidos atentos para os rumores que Breu considerava
tão preciosos. Dessa maneira, fiquei sabendo que muito do que tínhamos esperado tinha
acontecido. A diplomacia de Veracidade tinha corrido bem, e a Dama Graça era agora a
querida da cidade. Já se podia notar um aumento de trabalho nas estradas e fortificações. A
Ilha de Vigia estava guardada pelos melhores homens de Calvar, e o povo já se referia a ela
como a Torre de Graça. Também havia rumores sobre os Navios Vermelhos, que tinham se
esgueirado pelo meio das torres de Veracidade, e sobre os estranhos acontecimentos em
Forja. Ouvi mais do que uma vez referências a aparições do Homem Pustulento, e os relatos
que se contavam à lareira da estalagem sobre as pessoas que vagueavam por Forja me faziam
ter pesadelos.
Os que fugiram de Forja contavam relatos arrepiantes, de familiares que tinham se tornado
frios e cruéis, e que continuavam vivendo por lá, como se ainda fossem humanos, mas aqueles
que os tinham conhecido melhor eram os que menos se deixavam enganar. Essas pessoas
cometiam atos à luz do dia jamais vistos em Torre do Cervo. Os murmúrios daqueles males
excediam a minha imaginação. Os navios deixaram de parar em Forja. Teriam de encontrar
minério de ferro em outro lugar. Dizia-se que ninguém queria sequer acolher as pessoas que
tinham fugido, pois quem podia saber se não trariam consigo algo contagioso. Afinal de
contas, o próprio Homem Pustulento tinha aparecido para elas. E, contudo, de alguma forma,
era ainda mais difícil ouvir as pessoas comuns dizerem que em breve tudo estaria terminado,
que as criaturas de Forja se matariam, e darem graças aos céus que assim fosse. A boa gente
de Baía Limpa desejava a morte daqueles que tinham sido um dia a boa gente de Forja, e