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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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– Você está cheirando a semente de carris – eu disse, não acreditando nas minhas próprias

palavras.

Mas tinha captado o odor doce e inconfundível da semente e do óleo no seu hálito. Eu tinha

comido bolos de semente de carris durante a Festa da Primavera, quando todas as pessoas os

comem, e sabia da energia impulsiva que mesmo uma pequena quantidade da semente em cima

de um bolo pode trazer. Todo mundo celebrava o Limiar da Primavera dessa maneira. Uma

vez por ano, que mal podia fazer? Mas sabia também que Bronco tinha me avisado para nunca

comprar um cavalo que cheirasse a semente de carris. E tinha me avisado também que se eu

pegasse alguém pondo óleo de semente de carris nos grãos dos nossos cavalos, ele o mataria.

Com as próprias mãos.

– Ah, estou? Imaginem só. Agora. Sugiro que, se tiver de fazer os cavalos nadarem, ponha a

camisa e a capa num saco e o entregue para mim no barco. Dessa forma, terá pelo menos

alguma coisa seca para vestir quando chegarmos à praia. Da praia, a nossa estrada será...

– Bronco diz que a partir do momento em que um animal ingere as sementes, nunca mais é o

mesmo. Acontecem coisas com os cavalos. Diz que podem ser usadas para ganhar uma

corrida, ou capturar um veado, mas, depois disso, o animal nunca será o que era. Diz que

vendedores de cavalos desonestos as usam para fazer um animal parecer melhor durante a

venda; as sementes lhes dão coragem e fazem os olhos deles brilharem, mas isso passa

depressa. Bronco diz que tiram a sensação de cansaço deles, e que continuam ativos, além do

ponto em que já deveriam ter caído de exaustão. Bronco me disse que muitas vezes, quando o

efeito passa, o cavalo simplesmente cai.

As palavras transbordaram de mim como água fria contra as rochas.

Breu levantou o olhar do mapa. Fitou-me calmamente.

– Imagino o Bronco sabendo disso tudo sobre sementes de carris. Fico contente que você o

tenha escutado tão atentamente. Agora talvez possa ter a bondade de me dar a mesma atenção

enquanto planejamos a próxima fase da nossa travessia.

– Mas, Breu...

Ele me paralisou com os olhos.

– Bronco é um bom mestre de cavalos. Mesmo quando garoto já demonstrava muita aptidão.

Raramente se engana... no que diz respeito a cavalos. Agora preste atenção no que eu estou te

dizendo. Precisaremos de uma lanterna para alcançar as falésias da praia. O caminho é muito

ruim, talvez tenhamos que levar para cima um cavalo de cada vez, mas me disseram que é

possível fazer isso. Daí, vamos a Forja. Não há estrada que nos leve lá rápido o suficiente

para que seja de alguma utilidade. É um território montanhoso, mas não arborizado. E será à

noite, de modo que as estrelas terão de servir de mapa para nós. Espero que consigamos

chegar a Forja no meio da tarde. Chegaremos como viajantes, você e eu. É isso o que decidi

até agora, o resto terá de ser planejado de hora em hora...

E lá se foi o momento em que eu poderia ter perguntado a ele como é que ele conseguia usar

a semente e não morrer disso; aquilo tinha sido posto de lado pelos seus planos cuidadosos e

detalhes precisos. Durante mais meia hora, continuou a fazer uma exposição de pormenores, e

então me mandou abandonar a cabine, dizendo que tinha outros preparativos para fazer e que

eu devia ver como estavam os cavalos e aproveitar para descansar o quanto pudesse.

Os cavalos estavam na parte da frente do barco, dentro de uma cerca provisória feita com

cordas no convés, atapetado com palha para protegê-lo dos cascos e excrementos. Um

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