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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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calma e nivelada, as suas palavras precisas.

– Se o meu senhor não tem herdeiro, é vontade de Eda e não culpa da sua virilidade. A

Dama Paciência sempre foi frágil e...

– Isso mesmo, isso mesmo – concordou Jasão rapidamente. – E ali está a prova de que não

há nada de mal com ele enquanto homem, que era o que eu estava dizendo, só isso. – Ele

limpou com pressa a boca na manga. – Tão parecido com o Príncipe Cavalaria quanto alguém

pode ser, foi o que o irmão disse há pouco. Não é culpa do Príncipe Herdeiro se a Dama

Paciência não consegue carregar a sua semente até o fim...

Bronco levantou-se de repente. Jasão recuou um ou dois passos ligeiros antes de perceber

que era eu o alvo de Bronco, e não ele. Bronco agarrou-me pelos ombros e virou-me para o

fogo. Quando apertou firmemente o meu maxilar na sua mão e ergueu a minha face para

aproximá-la da sua, assustou-me, e eu deixei cair o pão e o queijo. Ele não deu a mínima para

isso, inclinando o meu rosto na direção do fogo e estudando-me como se eu fosse um mapa. Os

seus olhos encontraram os meus e havia algo de selvagem neles, como se o que visse na minha

face fosse uma ferida que eu lhe infligira. Comecei a tentar fugir daquele olhar, mas as mãos

dele não me largavam. Então fixei os olhos nele, em desafio, e vi a sua preocupação misturarse

subitamente com uma espécie de fascínio relutante. Finalmente, fechou os olhos por um

segundo, encobrindo certa dor.

– Isso é uma coisa que vai testar a força de vontade de sua dama até os limites do próprio

nome dela – disse Bronco suavemente.

Ele soltou o meu maxilar e inclinou-se desajeitadamente para apanhar o pão e o queijo que

eu havia deixado cair. Espanou-os e entregou-me de volta. Olhei fixamente para o curativo

grosso que se estendia da panturrilha ao joelho direito e o impedia de dobrar a perna. Voltou a

sentar-se, pegando uma jarra que estava sobre a mesa e enchendo novamente a caneca.

Continuou a beber, observando-me por cima da borda da caneca.

– De quem é que o Cavalaria arranjou o menino? – perguntou incautamente o homem do

outro lado da mesa.

Bronco virou os olhos para o homem enquanto descansava a caneca. Por um momento não

falou, e eu senti o silêncio pairando ali outra vez.

– Eu diria que isso é da conta do Príncipe Cavalaria, e não se trata de conversa de cozinha

– disse brandamente.

– Isso mesmo, isso mesmo – concordou abruptamente o guarda. Jasão acenou com a cabeça

em concordância, num movimento repetitivo. Jovem como eu era, perguntava-me que espécie

de homem era este que, com uma perna enfaixada, conseguia impor respeito a um recinto cheio

de homens durões, com apenas um olhar ou uma palavra.

– O garoto não tem nome – disse Jasão, cortando o silêncio. – Atende apenas por “garoto”.

Essa declaração pareceu deixar toda a gente, incluindo Bronco, sem palavras. O silêncio

arrastou-se enquanto eu acabava de comer o pão, o queijo e a carne, empurrando-os para

baixo com um gole ou dois da cerveja que Bronco me ofereceu. Os outros homens foram

gradualmente deixando a cozinha, em grupos de dois ou três, mas ele continuava ali, sentado,

bebendo e olhando para mim.

– Ora bem – disse, por fim. – Se conheço bem o seu pai, ele vai encarar a situação como

deve ser e tomar a decisão mais correta, mas só Eda sabe que decisão ele vai achar a mais

correta numa situação destas. Provavelmente aquela que mais doer – observou-me

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