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Nunca vou esquecer aquela cavalgada noturna. Não porque tenha sido um galope
desenfreado para salvar alguém, mas precisamente porque não foi isso. Breu nos guiou e usou
os cavalos como se fossem peças de xadrez num tabuleiro. Não jogou depressa, mas jogou
para ganhar. E assim houve momentos em que fizemos os cavalos andarem devagar para
deixá-los recuperar o fôlego, e momentos em que descemos dos cavalos e os conduzimos para
passar em segurança por locais traiçoeiros.
Quando a manhã começou a acinzentar o céu, paramos para comer das provisões trazidas
por Breu. Estávamos no topo de um monte tão densamente povoado de árvores que
dificilmente enxergávamos o céu sobre elas. Podia ouvir o oceano e sentir o seu cheiro, mas
não conseguia vislumbrá-lo. O nosso caminho tinha se tornado sinuoso, pouco mais do que
uma trilha de veados através da floresta. Agora que estávamos parados, podia sentir o cheiro
e o barulho de vida à nossa volta. Os pássaros gorjeavam, e ouvi o movimento de pequenos
animais na moita e nos ramos acima de nós. Breu tinha se espreguiçado e sentado sobre uma
camada grossa de musgo, encostado a uma árvore. Bebeu longamente de um cantil de água e
depois, em menos tempo, de um frasco de aguardente. Parecia cansado, e a luz do dia revelava
a sua idade de uma forma mais cruel do que a luz da vela alguma vez tinha feito. Não sabia se
ele conseguiria suportar a viagem ou se o esforço o faria sucumbir.
– Vou ficar bem – disse, quando me pegou observando-o. – Já precisei executar tarefas
mais árduas do que esta, e com menos tempo de sono. Além disso, temos umas boas cinco ou
seis horas de descanso no barco, se a travessia for calma. Portanto, não há razão para ansiar
por dormir. Vamos, garoto.
Cerca de duas horas mais tarde, o nosso caminho se bifurcou, e pegamos outra vez a
ramificação mais obscura. Daí em diante, tive de ir praticamente deitado no pescoço de
Fuligem para evitar os ramos baixos. Era úmido e abafado sob as árvores, e fomos agraciados
com enxames de pequenas moscas que torturavam os cavalos e se agarravam às roupas em
busca de carne para se deleitarem. Os enxames eram tão densos que, quando finalmente ganhei
coragem suficiente para perguntar a Breu se estávamos perdidos, quase me sufoquei com as
moscas que entraram na minha boca.
Por volta do meio-dia emergimos na encosta de um monte que era mais aberta, e onde
ventava muito. Vi outra vez o oceano. O vento refrescou os cavalos suados e varreu os insetos
para longe. Era um prazer imenso simplesmente sentar-me ereto na sela outra vez. A trilha era
larga o suficiente para que pudesse cavalgar ao lado de Breu. As marcas roxas se destacavam
em contraste com sua pele pálida; ele parecia mais débil do que Bobo. Círculos escuros
desenhavam-se sob os seus olhos. Ele me pegou observando-o e franziu as sobrancelhas.
– Faça um relatório, em vez de ficar boquiaberto olhando para mim como um tolo –
ordenou-me, e foi o que eu fiz.
Era difícil seguir o caminho e a cara dele ao mesmo tempo, mas, da segunda vez que bufou,
olhei-o de relance para encontrar em seu rosto uma expressão de divertimento irônico.
Terminei o relatório, e ele abanou a cabeça.
– Sorte! A mesma sorte que seu pai costumava ter! A sua diplomacia de cozinha pode ter
sido suficiente para resolver a situação, se o problema for apenas esse. E, a julgar pelos
rumores que ouvi, foi isso mesmo. Bem. Calvar era um bom duque antes disso, e parece que
tudo o que aconteceu foi uma jovem noiva que lhe subiu à cabeça – suspirou de repente. – De
qualquer forma, isso é ruim, com Veracidade ali para repreender um homem por não se