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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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Nunca vou esquecer aquela cavalgada noturna. Não porque tenha sido um galope

desenfreado para salvar alguém, mas precisamente porque não foi isso. Breu nos guiou e usou

os cavalos como se fossem peças de xadrez num tabuleiro. Não jogou depressa, mas jogou

para ganhar. E assim houve momentos em que fizemos os cavalos andarem devagar para

deixá-los recuperar o fôlego, e momentos em que descemos dos cavalos e os conduzimos para

passar em segurança por locais traiçoeiros.

Quando a manhã começou a acinzentar o céu, paramos para comer das provisões trazidas

por Breu. Estávamos no topo de um monte tão densamente povoado de árvores que

dificilmente enxergávamos o céu sobre elas. Podia ouvir o oceano e sentir o seu cheiro, mas

não conseguia vislumbrá-lo. O nosso caminho tinha se tornado sinuoso, pouco mais do que

uma trilha de veados através da floresta. Agora que estávamos parados, podia sentir o cheiro

e o barulho de vida à nossa volta. Os pássaros gorjeavam, e ouvi o movimento de pequenos

animais na moita e nos ramos acima de nós. Breu tinha se espreguiçado e sentado sobre uma

camada grossa de musgo, encostado a uma árvore. Bebeu longamente de um cantil de água e

depois, em menos tempo, de um frasco de aguardente. Parecia cansado, e a luz do dia revelava

a sua idade de uma forma mais cruel do que a luz da vela alguma vez tinha feito. Não sabia se

ele conseguiria suportar a viagem ou se o esforço o faria sucumbir.

– Vou ficar bem – disse, quando me pegou observando-o. – Já precisei executar tarefas

mais árduas do que esta, e com menos tempo de sono. Além disso, temos umas boas cinco ou

seis horas de descanso no barco, se a travessia for calma. Portanto, não há razão para ansiar

por dormir. Vamos, garoto.

Cerca de duas horas mais tarde, o nosso caminho se bifurcou, e pegamos outra vez a

ramificação mais obscura. Daí em diante, tive de ir praticamente deitado no pescoço de

Fuligem para evitar os ramos baixos. Era úmido e abafado sob as árvores, e fomos agraciados

com enxames de pequenas moscas que torturavam os cavalos e se agarravam às roupas em

busca de carne para se deleitarem. Os enxames eram tão densos que, quando finalmente ganhei

coragem suficiente para perguntar a Breu se estávamos perdidos, quase me sufoquei com as

moscas que entraram na minha boca.

Por volta do meio-dia emergimos na encosta de um monte que era mais aberta, e onde

ventava muito. Vi outra vez o oceano. O vento refrescou os cavalos suados e varreu os insetos

para longe. Era um prazer imenso simplesmente sentar-me ereto na sela outra vez. A trilha era

larga o suficiente para que pudesse cavalgar ao lado de Breu. As marcas roxas se destacavam

em contraste com sua pele pálida; ele parecia mais débil do que Bobo. Círculos escuros

desenhavam-se sob os seus olhos. Ele me pegou observando-o e franziu as sobrancelhas.

– Faça um relatório, em vez de ficar boquiaberto olhando para mim como um tolo –

ordenou-me, e foi o que eu fiz.

Era difícil seguir o caminho e a cara dele ao mesmo tempo, mas, da segunda vez que bufou,

olhei-o de relance para encontrar em seu rosto uma expressão de divertimento irônico.

Terminei o relatório, e ele abanou a cabeça.

– Sorte! A mesma sorte que seu pai costumava ter! A sua diplomacia de cozinha pode ter

sido suficiente para resolver a situação, se o problema for apenas esse. E, a julgar pelos

rumores que ouvi, foi isso mesmo. Bem. Calvar era um bom duque antes disso, e parece que

tudo o que aconteceu foi uma jovem noiva que lhe subiu à cabeça – suspirou de repente. – De

qualquer forma, isso é ruim, com Veracidade ali para repreender um homem por não se

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