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Veracidade está na Baía Limpa. Não me diga que eles não sabiam que estava aqui, fora de
Torre do Cervo. Mas isso não é tudo. Fizeram reféns e os arrastaram para os seus navios. E
enviaram uma mensagem a Torre do Cervo, ao próprio Rei Sagaz. Exigem ouro – muito – ou
devolverão os reféns à aldeia.
– Você quer dizer que eles matarão os reféns se não receberem o ouro?
– Não – Breu abanou a cabeça irritado, como um urso incomodado por abelhas. – Não, a
mensagem era bastante clara. Se o ouro for pago, eles matarão os reféns. Caso contrário, irão
libertá-los. O mensageiro era de Forja, um homem cuja mulher e filho tinham sido raptados. E
ele insistiu que tinha entendido bem qual era a ameaça.
– Não vejo isso como um problema – disse.
– À primeira vista, eu também não. Mas o homem que levou a mensagem a Sagaz ainda
estava tremendo, apesar da longa cavalgada. Não podia explicar mais claramente a situação,
nem dizer se achava que o ouro devia ser pago. Tudo o que conseguia fazer era repetir
constantemente como o capitão do navio tinha sorrido enquanto lhe ditava o ultimato, e como
os outros salteadores tinham gargalhado com as suas palavras. Portanto, iremos lá ver isso,
você e eu. Antes que o rei anuncie uma resposta oficial, antes que Veracidade saiba. Agora
preste atenção. Esta é a estrada por onde viemos. Vê como segue a curva da costa? E este é o
caminho por onde iremos. É muito mais reto, mas também mais inclinado e, em alguns lugares,
pantanoso, já que nunca foi usado por carroças. Mas muito mais rápido para homens a cavalo.
Aqui, um pequeno barco está à nossa espera; atravessar a baía desse modo encurtará em
muitas milhas e tempo a nossa viagem. Acostaremos neste ponto, e daí subiremos em direção a
Forja.
Estudei o mapa. Forja ficava a norte de Torre do Cervo. Fiquei imaginando quanto tempo o
nosso mensageiro tinha demorado para nos alcançar e se, quando chegássemos lá, a ameaça
dos Salteadores dos Navios Vermelhos já teria sido consumada. Mas não valia a pena ficar
supondo.
– E um cavalo para você?
– Isso já foi arranjado. Pela mesma pessoa que trouxe essa mensagem. Há um cavalo baio lá
fora com três patas brancas. Esse é para mim. O mensageiro irá providenciar também uma
bisneta para Dama Timo. O barco espera por nós, vamos.
– Um momento – eu disse, e ignorei sua testa franzida por causa do atraso. – Tenho de
perguntar isto, Breu. Você estava aqui porque não confia em mim?
– É justo que me pergunte isso, eu suponho. Não. Estava aqui para ficar à escuta do
povoado, das conversas das mulheres, da mesma forma que você estava à escuta da torre. As
chapeleiras e as vendedoras de botões podem saber mais do que um conselheiro do rei,
mesmo sem saberem que sabem. Agora. Vamos embora?
Foi o que fizemos. Deixamos a estalagem pela entrada lateral, e um cavalo baio estava logo
à saída. Fuligem não gostou muito dele, mas se comportou. Senti a impaciência de Breu, mas
ainda assim ele manteve os cavalos a um passo sossegado até deixarmos as ruas pavimentadas
de Baía Limpa. Quando as luzes das casas estavam bem atrás de nós, fizemos os cavalos
correrem a um galope suave. Breu liderava, e eu estava surpreendido com o quão bem ele
cavalgava e com a facilidade que demonstrava em escolher os caminhos no escuro. Fuligem
não gostava de viajar a uma velocidade tão grande durante a noite. Se não fosse a lua quase
cheia, não penso que tivesse conseguido persuadi-la a acompanhar o baio.