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O Aprendiz De Assassino - Saga - Robin Hobb

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estavam precisando ser cortadas. Com as pontas dos dedos, consegui sentir a espinha na

garganta dele. Mexi e senti que ela se movia, mas estava entalada, atravessada na garganta do

pobre animal. Ele soltou um uivo estrangulado e se contorceu freneticamente nos meus braços.

Eu o soltei.

– Bem. Ele não vai se livrar daquilo sem ajuda – observei.

Deixei-a choramingando. Pelo menos, não o pegou, nem o apertou. Enchi a mão com um

pouco da banha do barril e a despejei na minha tigela. Agora precisava de algo em forma de

gancho, ou pelo menos bem curvado, mas não muito grande... Procurei nos cestos e,

finalmente, achei um gancho curvo de metal com um cabo. Provavelmente era usado para tirar

panelas quentes do fogo.

– Sente-se – disse à moça.

Ela olhou para mim, boquiaberta, e em seguida se sentou obedientemente no banco para o

qual eu tinha apontado.

– Agora segure-o firme, entre os joelhos. E não o deixe escapulir, não importa o quanto ele

bata em você com as patas, ou o quanto se contorça ou comece a ganir. E segure as patas

dianteiras dele de modo que ele não me arranhe com as unhas enquanto eu faço isso.

Entendeu?

Ela inspirou profundamente, engoliu em seco e consentiu. Lágrimas rolavam pelo rosto

dela. Coloquei o cachorro no colo e pus as mãos dela em cima dele.

– Segure com firmeza – disse-lhe. Peguei um pedaço de banha com uma colher. – Vou usar

a gordura para lubrificar a garganta dele. Depois, tenho que abrir a boca dele à força,

enganchar a espinha e puxá-la para fora. Está pronta?

Acenou em afirmativa com a cabeça. As lágrimas tinham parado de correr e os lábios

estavam fechados bem firmes. Fiquei contente ao ver que havia alguma força nela. Acenei de

volta.

A parte fácil foi pôr a banha goela abaixo. Contudo, isso bloqueou a garganta dele, e o seu

pânico aumentou, afetando o meu autocontrole com aquelas ondas de terror. Não tinha tempo

para ser gentil enquanto forçava a boca do cachorro a se abrir e enfiava o gancho em sua

goela. Só esperava que não rasgasse a carne do animal. Mas, se fizesse isso, bem, ele

morreria de qualquer forma. Girei a ferramenta na garganta dele enquanto se sacudia, gania e

urinava na dona. O gancho pescou a espinha e eu a puxei para cima, num esforço firme e

contínuo.

Aquilo emergiu numa mistura de espuma, bile e sangue. Era um pequeno osso, e não uma

espinha, parte do esterno de um passarinho. Joguei-o em cima da mesa.

– E ele também não devia ter acesso a ossos de aves – disse, em tom severo.

Não creio que ela tenha me ouvido. O cãozinho estava arfando de gratidão no colo dela.

Peguei o prato de água e dei para ele beber. Ele farejou, bebeu um pouquinho e se enrolou,

exausto. Ela o pegou e o embalou nos braços, com a cabeça inclinada sobre a dele.

– Tem uma coisa que eu quero de você – comecei.

– Tudo o que quiser – disse ela para o pelo do cachorro. – Diga e será seu.

– Em primeiro lugar, pare de dar a ele sua comida. Por um tempo, dê-lhe apenas carne

vermelha e grãos cozidos. E, para um cão desse tamanho, não mais do que um punhado. E não

o carregue para todo lado. Ponha-o para correr, para ganhar um pouco de músculo e desgastar

as unhas. E lave-o. Ele cheira mal, tanto o pelo quanto o hálito, por causa da comida

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