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freneticamente e em seguida pareceu acalmar-se. Se não tivesse ouvido sua respiração
ofegante, juraria que ele tinha morrido nos braços dela. Os olhos bojudos e negros
encontraram os meus e senti a força do pânico e a dor do pequeno animal. Calma.
– Escute – eu me ouvi dizer. – Você não o está ajudando ao apertá-lo com tanta força. Ele
quase não consegue respirar. Solte-o. Desembrulhe-o. Deixe-o decidir como se sente mais
confortável. Assim todo embrulhado está muito quente, e ele está tentando arfar e se engasga,
tudo ao mesmo tempo. Solte-o.
Ela era uma cabeça mais alta do que eu e, por alguns instantes, pensei que ia ter de enfrentála,
mas ela deixou que eu pegasse o pobre cão embrulhado dos seus braços e o libertasse das
várias camadas de tecido. Coloquei-o na mesa.
A miséria do animalzinho era total. Mantinha-se de pé, com a cabeça decaída entre as patas
dianteiras. O focinho e o peito estavam lustrosos de saliva, a barriga distendida e dura.
Começou outra vez a ter ânsias de vômito e a se engasgar. A pequena mandíbula se
escancarara; os lábios se contorceram e se arreganharam, mostrando os pequenos dentes
pontiagudos. A língua muito vermelha comprovava a violência dos seus esforços. A moça deu
um grito e saltou para a frente tentando pegá-lo outra vez, mas eu a empurrei para trás
severamente.
– Não o pegue – disse-lhe impacientemente. – Ele está tentando colocar alguma coisa para
fora e não consegue fazer isso se você ficar apertando as tripas dele.
Ela parou.
– Tentando trazer alguma coisa para cima?
– Ele está agindo como se alguma coisa estivesse presa na goela. Ele comeu ossos ou
penas?
Ela pareceu arrasada.
– Havia espinhas no peixe. Mas apenas aquelas pequenininhas.
– Peixe? Que idiota é que deixa o cachorro comer peixe? Era fresco ou podre?
Eu já tinha visto o quão doente um cão pode ficar por comer salmão podre na margem de
um rio. Se este animalzinho tinha comido a mesma coisa, não tinha chance nenhuma de
sobreviver.
– Era fresco e bem cozido. A mesma truta que eu comi no jantar.
– Bem, pelo menos não há chance de ser venenosa para ele. Por enquanto, é só a espinha.
Mas, se cair no estômago dele, ainda é provável que o mate.
Ela arquejou.
– Não, não pode ser! Ele não pode morrer. Ele vai ficar bem. Tem apenas um mal-estar no
estômago. Eu dei muita comida para ele. Vai ficar bem. De qualquer forma, o que você sabe
disso tudo, garoto da cozinha?
Observei o cão ter outra ânsia de vômito, quase convulsiva. Nada veio à sua boca, com
exceção de bile amarela.
– Não sou um garoto da cozinha. Sou um garoto dos cães. Do cão do próprio Veracidade, se
você quer saber. E, se não ajudarmos este filhotinho, ele vai morrer. Em breve.
Ela me observou, no rosto uma mistura de fascínio e terror, enquanto eu agarrava
firmemente a sua pequena mascote. Estou tentando te ajudar. Ela não acreditou em mim. Abri
à força a boca dele e enfiei os dedos goela abaixo. O cão começou a ter ânsias de vômito
ainda mais fortes e começou a me bater freneticamente com as patas dianteiras. As unhas dele